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ESPECIALISTA RESPONDE

"Mãe, deixa eu ser youtuber?" O que fazer se o filho pequeno pede isso

27 janeiro 2020 - 10h28Por UOL

Quando os irmãos Davi e Carol, à época com 9 e 6 anos respectivamente, pediram para ter um canal no YouTube, a mãe Michelle Freire de Queiroz Santana concordou, acreditando que seria apenas mais uma brincadeira deles. Três anos e meio depois, o Gatinha das Artes, encabeçado pela caçula, tem mais de 550 mil inscritos — e seu vídeo mais popular, 19 milhões (!!!) de visualizações.

Na casa da empresária e engenheira civil Alessandra Soares Antunes Garcia, a pequena Laura, hoje com 7, insistiu durante dois anos até que a mãe concordasse com a criação de um canal. O ok materno para a filha e o irmão Gabriel, de 5, veio no fim do ano passado, como alternativa de entretenimento das férias. O conteúdo, no entanto, é acessado apenas pela família e não tem sido muito atualizado.

Já a produtora e cantora Lia Vicente disse "não" ao pedido do pequeno Francisco, cerca um ano atrás, quando o garoto tinha 8 anos — e eles têm convivido bem com a situação, apesar de a mãe saber que, dentro de mais alguns anos, a resposta talvez tenha que ser diferente.

Sonho de ser youtuber

Em julho passado, uma pesquisa da Lego mostrou que crianças americanas, inglesas e chinesas têm mais vontade de serem youtubers do que astronautas — uma profissão que sempre esteve em alta nas respostas à pergunta: "O que você quer ser quando crescer?"

Assim como os estrangeiros, a garotada brasileira também sonha em ter um canal próprio, seja inspirada pelos amiguinhos da escola que já possuem uma página pessoal, seja por causa de perfis famosos que são referência no dia a dia dessa turminha. Entre tantas novas requisições, os pais se dividem e a dúvida que paira no ar é a mesma: como proceder?

Não se pode desdenhar o pedido Para a neuropsicóloga Nívea Loza, não adianta os responsáveis fecharem os olhos e ignorar o ambiente virtual. "Estamos vivendo uma era tecnológica intensa. Nossos filhos têm acesso cada vez mais cedo ao mundo interativo. Além disso, a busca por ser uma pessoa de sucesso, como os ídolos do YouTube, está cada vez mais presente na vida deles", pondera.

A especialista observa que ter um canal de vídeos e produzir conteúdo para abastecê-lo pode ser uma grande brincadeira para as crianças, mas também uma grande cilada. "Por essa razão, é necessário os pais terem boas conversas sobre o momento e os acontecimentos e mostrar a importância do equilíbrio nisso", opina.

Ellen Moraes Senra, psicóloga e especialista em terapia cognitivo comportamental, acredita que "cada caso é um caso" e depende, principalmente, da idade da criança. Entretanto, ignorar o pedido de um filho pode não ser um bom caminho, muito menos desdenhar a reivindicação.

"O principal erro é banalizar o sonho infantil. Pai ou mãe pode não querer e não concordar, mas fazer piada disso beira a crueldade. Afinal, os sonhos são válidos, mesmo que possam não se realizar ou que não sejam a escolha óbvia deles", salienta a especialista.

Supervisão constante Algo é unânime entre especialistas e mães ouvidas por Universa: o acompanhamento constante dos adultos é imprescindível. "Preferi não deixar por não ter tempo nem disponibilidade de gerenciar um perfil. E ele não tem discernimento nem maturidade suficientes para fazer isso — além de o YouTube só permitir contas próprias a partir dos 13 anos", comenta Lia, a mãe de Francisco.

Michelle, que também é a produtora do canal da filha, desde sempre supervisiona o material produzido: ela gerencia as gravações (que só acontecem nos fins de semana, com eventuais exceções), avalia todos os vídeos antes de serem publicados e administra os contatos recebidos, entre outras tarefas.

"Compartilhávamos com a família e os amigos, sem a intenção de expandir a visibilidade dos vídeos. Não vislumbramos uma quantidade grande de seguidores. Quando a brincadeira começou a dar certo, decidimos profissionalizar o canal", conta a mãe.

Foi por receio de abordagens e preocupada com a segurança dos pequenos que Alessandra relutou em ceder aos pedidos da filha. "Acabei deixando porque alguns amigos da escola têm canal. Fizemos só dois vídeos e o irmão mais novo também quis fazer um dele. Postei no canal, eles conseguem assistir quando querem. Ficaram felizes e satisfeitos", comenta.

Um dos motivos que levou a mãe a não dar trela para a brincadeira foi ter notado a filha ansiosa com a quantidade de visualizações do primeiro vídeo. "Expliquei que só a avó sabia do canal e que ela não devia se preocupar com isso. Como não entende o funcionamento e mudei de foco, ela logo perdeu o interesse", comenta.

Manual "básico"

para os pais Com ajuda das especialistas Nívea Loza e Ellen Moraes Senra e da mãe Michelle Freire de Queiroz Santana, listamos os principais pontos que devem ser observados pelos pais de filhos pequenos que querem ser youtuber.

  • Controle total: pais devem ter 100% de acesso e controle na conta, inclusive acompanhando quais canais e vídeos o filho consome no dia a dia.
  • Alerta aos filhos: os responsáveis precisam conversar com os pequenos sobre os perigos que existem no ambiente virtual, alertando sobre os riscos que correm pela exposição da imagem.
  • Limite o tempo: duas horas por dia é uma boa medida de tempo para o acesso das crianças grandinhas ao YouTube. Em relação à produção de vídeos, uma vez por semana pode ser um bom limite.
  • De olho nas brechas: avaliar se o conteúdo é adequado para o público infantil, bem como se as lacunas podem levar à má interpretação, é indispensável. Prestar atenção a tudo o que é falado e de que maneira também deve ser responsabilidade dos pais.
  • Moderação de mensagens: desde 6 de janeiro, comentários, notificações e monetização dos canais para público infantil estão proibidos pelo YouTube, entre outras mudanças. Mesmo assim, os pais devem ter total controle de mensagens que chegam nos canais dos filhos, filtrando o que vale ser passado aos miniyoutubers.
  • Informações vetadas: nunca deve ser permitido que o filho mostre a casa ou comente o endereço da residência ou da escola. Também não permita que eles vistam uniformes que identifiquem onde estudam ou deem detalhes sobre onde os pais trabalham.

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