A geração que amadureceu em meio a aplicativos de namoro, redes sociais permanentes e discursos sobre saúde mental pode estar traindo menos — não por virtude, mas por esgotamento. Para muitos millennials, o adultério deixou de ser tentação e passou a soar como algo inviável diante da rotina já sobrecarregada.
Trabalho intenso, custo de vida elevado, pressão por estabilidade emocional e a tentativa constante de “dar conta da própria vida” consomem tempo e energia. Manter um relacionamento saudável já exige esforço considerável; sustentar dois, para muitos, simplesmente não cabe mais na agenda — nem no emocional.
TECNOLOGIA ABRE PORTAS, MAS TAMBÉM VIGIA
Nunca foi tão fácil encontrar pessoas interessadas fora do relacionamento. Aplicativos, redes sociais e mensagens privadas tornaram o contato imediato. Ainda assim, cresce a percepção de que os millennials recorrem menos à infidelidade do que gerações anteriores.
Parte disso se explica pelo efeito colateral da própria tecnologia: localização compartilhada, histórico de conversas e rastros digitais tornaram o risco de exposição muito maior. A ideia de administrar segredos, mentiras e versões paralelas da própria vida gera mais ansiedade do que prazer.
IDENTIFICAÇÃO COLETIVA
A discussão ganhou projeção após a repercussão de um trecho do podcast australiano Mamamia Out Loud, que levantou a hipótese de que os millennials simplesmente não têm disposição para trair. A reação nas redes foi imediata — e reveladora.
Comentários ironizaram a falta de tempo, energia e recursos para manter outra relação. Muitos destacaram que já é difícil sustentar financeiramente uma casa, uma rotina e um vínculo estável. A infidelidade, nesse contexto, parece mais um problema do que uma fuga.
DADOS, PRESSÃO E BURNOUT
Embora seja difícil medir com precisão a infidelidade global, pesquisas por geração reforçam a tendência. Estudos indicam que pessoas mais velhas relatam taxas maiores de traição, enquanto millennials apresentam índices mais baixos, apesar de maior acesso a oportunidades.
O cenário econômico ajuda a explicar. Essa geração entrou no mercado de trabalho após crises sucessivas, enfrenta salários defasados, custo de vida crescente e altos níveis de burnout. Relatórios recentes mostram que mais da metade dos millennials relatam esgotamento emocional e adiam decisões como casamento e filhos por insegurança financeira.
RELACIONAR-SE COM MAIS CONSCIÊNCIA
Especialistas apontam que os relacionamentos atuais exigem mais presença emocional, diálogo constante e vulnerabilidade. Para muitos millennials, isso já é um desafio em um único vínculo. Manter dois passa a exigir um investimento emocional que poucos conseguem sustentar.
Além disso, há uma mudança cultural em curso. Muitos aprenderam observando os impactos do divórcio e da traição nas gerações anteriores e passaram a buscar relações mais intencionais. Modelos alternativos, como não monogamia consensual, também ganham espaço, reduzindo a quebra de acordos.
Mesmo sem consenso entre especialistas, o sentimento que emerge é claro: para uma geração cansada, trair não é libertação — é trabalho demais.


Manter um relacionamento saudável já exige esforço considerável. - Crédito: Imagem Ilustrativa 


