A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou hoje (8) uma nota de alerta sobre o diagnóstico de um caso de infecção por Candida auris (C. auris) em território brasileiro.
Segundo informa o boletim, o diagnóstico ocorreu em um adulto internado no estado da Bahia e foi confirmado pelo Laboratório do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
A Anvisa destaca que o fungo “representa uma grave ameaça à saúde global”, e que já havia emitido um alerta de risco anteriormente, em 2017. O alerta foi feito em função de relatos de surtos da doença causada pelo C. auris na América Latina comunicados pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A infecção é resistente a medicamentos e pode ser fatal. Em todo o mundo, estima-se que infecções fúngicas invasivas de C. auris tenha levado a morte entre 30% a 60% dos pacientes.
A Anvisa trabalha para revisar o comunicado de risco emitido anteriormente e informa que uma força-tarefa nacional já está organizada. “A Agência está trabalhando para contemplar a nova situação epidemiológica do país, a inclusão de outros laboratórios como referência para a rede nacional e as novas evidências científicas disponíveis. Recomendamos que os serviços de saúde e laboratórios de microbiologia estejam alertas às orientações”, registra a nota.
O alerta de risco sobre o fungo C. auris emitido pela Anvisa está disponível para o público.
O que é o Candida auris
O Candida auris é uma espécie de fungo que cresce como levedura e foi identificado pela primeira vez há uma década.
"Não sabemos qual a sua origem, mas ele foi descrito pela primeira vez em 2009, ao ser isolado após ter sido encontrado no canal auditivo de um paciente na Coreia do Sul", explica a especialista, Johanna Rhodes, do Imperial College London.
Alguns anos mais tarde, ele apareceu no Japão e começaram a surgir surtos na Índia, na África do Sul, na Venezuela, na Colômbia, nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Espanha.
O nome do micro-organismo é parecido com o fungo Candida albicans, um dos principais causadores de candidíase, pois ambos são do mesmo gênero (Candida) mas são espécies bem diferentes. A candidíase por C. albicans é uma doença comum que pode afetar a pele, as unhas e órgãos genitais, e é fácil de tratar.
Já a infecção pelo Candida auris é resistente a medicamentos e pode ser fatal, explica à BBC Brasil o infecctologista Arnaldo Lopes Colombo, professor da Unifesp e especialista em contaminação com fungos.
Segundo o infectologista, é possível ser colonizado de forma passageira pelo C. auris na pele ou na mucosa sem ter problemas. O fungo apresenta risco real se contaminar a corrente sanguínea.
Para a pessoa ser infectada, é preciso que tenha sofrido procedimentos invasivos (como cirurgias, uso de catéter venoso central) ou tenha o sistema imunológico comprometido. Pacientes internados em unidades de terapia intensiva por longos períodos e com uso prévio de antibióticos ou antifúngicos também são considerados grupo de risco para a contaminação.
Algumas pesquisas apontam um índice de mortalidade de 59% para infecções com C. auris, segundo o médico André Mário Doi, patologista do setor de microbiologia do Hospital Albert Einstein e autor de estudos sobre a espécie.