QUEDA DA PONTE JK

Remoção de agrotóxicos do Rio Tocantins é retomada 8 meses após tragédia

7 AGO 2025 • POR Da Redação • 08h19
Operação do Dnit reiniciada em julho prevê retirada de mais de mil galões que permanecem submersos - Divulgação

Após mais de seis meses de interrupção, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) retomou, no início de julho, as atividades de busca e retirada de galões de agrotóxicos que permanecem no fundo do rio Tocantins desde o desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, na BR-226, entre Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO). O acidente ocorreu em dezembro de 2024 e envolveu caminhões que transportavam defensivos agrícolas e ácido sulfúrico.

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Segundo documentos obtidos pela Repórter Brasil via Lei de Acesso à Informação (LAI), cerca de 1.300 galões seguem submersos, mas apenas 29 foram removidos até agora. A operação atual utiliza sonares e equipamentos não tripulados para localizar os recipientes e os veículos envolvidos, com previsão de ações até setembro.

RISCO AMBIENTAL  

As cargas continham substâncias como 2,4-D, picloram e acetamiprido, todas potencialmente tóxicas à saúde humana e ao meio ambiente. Até abril, análises da água não identificaram níveis acima dos limites permitidos, mas especialistas alertam para o perigo da exposição contínua a pequenas doses desses químicos.

Para o professor Fábio Kummrow, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a ausência de dados detalhados sobre a contaminação impede conclusões seguras. “É fácil afirmar que não há risco sem apresentar números. Se está tudo normal, por que não divulgar os dados?”, questionou.

OPERAÇÃO AFETADA  

A retirada inicial dos galões começou logo após o acidente, mas foi suspensa em janeiro devido ao aumento do nível do rio causado pelas chuvas e pela abertura das comportas da Usina Hidrelétrica Estreito, a 3 km do local. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) interrompeu as atividades citando risco aos mergulhadores.

Com a estabilidade do regime hídrico desde julho, o Dnit planeja avançar para a etapa de mergulhos técnicos, seguida do mapeamento completo da área e definição de estratégias para a remoção individual de cada carga, considerando profundidade, escombros e riscos associados.

FALTA DE INFORMAÇÃO

Moradores e representantes indígenas afirmam que não há diálogo por parte dos órgãos responsáveis. “Não houve, em nenhum momento, nenhum tipo de conversa ou de aproximação com as comunidades Apinayé”, disse Ricardo Murakami, representante da Terra Indígena Apinayé, em Tocantinópolis (TO).

Parte dos galões chegou a ser arrastada pela correnteza até municípios do Pará, a mais de 300 km do local do acidente, onde alguns recipientes foram recolhidos por prefeituras e devolvidos à empresa responsável pela carga.