FAMES-19

Nomeação de investigado pela PF foi decisiva para manter governador afastado

4 SET 2025 • POR Da Redação • 09h16
Recondução de Marcos Camilo foi apontada como indício de "continuidade delitiva". - Divulgação

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu por unanimidade manter o afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e da primeira-dama, Karynne Sotero Campos. O ministro relator Mauro Campbell Marques classificou a recondução de Marcos Camilo Martins ao cargo de chefe de gabinete como um “claro desdém” às apurações da Polícia Federal e ao Poder Judiciário.

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NOMEAÇÃO DE MARCOS CAMILO PESOU NA DECISÃO

Marcos Camilo, homem de confiança de Wanderlei, havia sido exonerado em agosto de 2024, logo após a deflagração da Operação Fames-19. Na ocasião, a Polícia Federal encontrou em seu gabinete, no Palácio Araguaia, grande quantia em dinheiro, boletos pagos em nome do governador e comprovantes de depósitos fracionados.

Mesmo após esses fatos, Camilo foi reconduzido ao gabinete, o que, segundo o ministro Campbell, indicou a “continuidade delitiva” do esquema. Para o STJ, a manobra mostrou descaso com a investigação e reforçou a necessidade de manter o afastamento do casal do comando do Executivo.

INVESTIGAÇÃO APONTA ESQUEMA EXPANDIDO

As investigações indicam que o grupo criminoso expandiu suas ações para além dos contratos de cestas básicas, passando a atuar por meio de assessores e operadores financeiros.

O dinheiro, segundo a Polícia Federal, era usado para despesas pessoais do governador e para financiar a construção da Pousada Pedra Canga, registrada em nome dos filhos de Wanderlei, com o objetivo de dissimular a origem ilícita dos recursos.

DESDOBRAMENTOS DA OPERAÇÃO FAMES-19

Na primeira fase da operação, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca no Palácio Araguaia e na residência oficial do governador. Foram apreendidos documentos, planilhas e extratos que revelaram movimentações suspeitas superiores a R$ 38 milhões, ligando diretamente Camilo e outros auxiliares às despesas pessoais de Wanderlei.

Esses elementos, somados à recondução de Camilo ao cargo, pesaram na decisão do ministro Mauro Campbell e da Corte Especial. O afastamento de 180 dias abriu espaço para que o vice-governador Laurez Moreira (PSD) assumisse interinamente o Executivo estadual.

DEFESAS NEGAM ENVOLVIMENTO

Wanderlei Barbosa negou participação no esquema, afirmando que a única menção ao seu nome foi a de um consórcio informal de R$ 5 mil com outras 11 pessoas, uma delas investigada.

A primeira-dama, Karynne Sotero, e os filhos Léo Barbosa e Rérison Castro, que também foram alvos de busca, negaram envolvimento e disseram ter prestado esclarecimentos à polícia.

“AMPLA ORGANIZAÇÃO SISTEMÁTICA”

O ministro Mauro Campbell destacou que as provas reunidas pela PF apontam para uma “ampla organização sistemática” formada por Wanderlei, familiares, servidores e empresários.

Entre 2020 e 2021, o governo estadual destinou mais de R$ 97 milhões para a compra emergencial de cestas básicas e frangos congelados. As investigações estimam que mais de R$ 73 milhões tenham sido desviados.

Parte dos valores teria sido lavada com a construção de empreendimentos de luxo, compra de gado e custeio de despesas pessoais do governador.