ESPECIALISTAS REBATEM

Trump causa polêmica ao ligar uso de paracetamol na gravidez ao autismo

26 SET 2025 • POR Da Redação • 19h12

O uso do paracetamol durante a gravidez voltou a ser tema de debate após declarações de figuras públicas, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que sugeriu uma possível relação entre o medicamento e o transtorno do espectro autista (TEA) em crianças.

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O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS

Neuropediatras alertam que não há evidências científicas que sustentem essa associação. Antonio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe, ressalta que buscar explicações simples para problemas complexos pode gerar desinformação. “Isso desvia a atenção do que realmente importa: terapias, educação, inclusão e acolhimento”, afirma.

O paracetamol é amplamente utilizado no Brasil, possui registro na Anvisa e é eficaz quando usado de forma adequada e sob orientação médica. Gestantes devem sempre consultar um profissional de saúde antes de utilizar qualquer medicamento.

PESQUISA CIENTÍFICA

Estudos observacionais apontaram risco discretamente maior de TEA em crianças expostas ao paracetamol no útero, mas esses resultados foram influenciados por fatores de confusão, como febre e infecções tratadas pelo medicamento.

Uma pesquisa sueca com 2,5 milhões de crianças não encontrou relação significativa entre o uso de paracetamol na gestação e o risco de autismo, após ajustes para variáveis ambientais e familiares. Outro desafio é o viés de recordação, quando participantes não lembram com precisão exposições passadas, afetando a validade de alguns estudos.

AUMENTO DE DIAGNÓSTICOS

O crescimento no número de casos de autismo nas últimas décadas está ligado principalmente à melhor compreensão dos sintomas, mudanças nos critérios diagnósticos e maior conscientização da sociedade, resultando em diagnósticos mais precoces e maior procura por serviços especializados.

FATORES LIGADOS AO TEA

Pesquisas indicam que cerca de mil genes estão relacionados ao TEA, e a interação com fatores ambientais aumenta a probabilidade de desenvolvimento do transtorno. Idade avançada dos pais, uso de determinados medicamentos — como ácido valproico — e estresse durante a gestação são fatores ambientais comprovados.

Especialistas reforçam que, apesar de declarações políticas recentes, não há evidência científica de que o paracetamol cause autismo. O foco deve estar no acesso a diagnósticos precoces, políticas públicas de inclusão e tratamentos que melhorem a qualidade de vida das pessoas com TEA.