"MÁFIA DOS CONCURSOS"

PF revela rede familiar que vendia aprovações por até R$ 500 mil

11 OUT 2025 • POR Da Redação • 10h16
Organização criminosa fraudava concursos públicos e ocultava pagamentos com imóveis, veículos e "laranjas", apontam investigações - Juan Silva e Dhara Pereira/ g1

Uma operação da Polícia Federal revelou um sofisticado esquema de fraudes em concursos públicos, operado por uma estrutura familiar no Sertão da Paraíba. O caso, batizado de “Máfia dos Concursos”, expôs como grupos criminosos conseguiram driblar sistemas de segurança considerados infalíveis, colocando em xeque a credibilidade dos certames em todo o país.

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COMO FUNCIONAVA O ESQUEMA

De acordo com a PF, o grupo vendia aprovações em concursos como se fossem produtos, cobrando até R$ 500 mil por vaga. Para garantir o resultado, utilizava recursos tecnológicos avançados, como pontos eletrônicos implantados cirurgicamente nos ouvidos dos candidatos, além de acesso antecipado aos gabaritos.

Os líderes também participavam de provas reais para validar a eficácia do método, reforçando a credibilidade do esquema entre os clientes.

A FAMÍLIA LIMEIRA E A ESTRUTURA DO GRUPO

O núcleo da organização seria formado por membros da família Limeira, com base em Patos (PB). O ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa é apontado como o chefe do esquema, responsável por negociar com candidatos e coordenar a distribuição dos gabaritos.

Entre os demais investigados estão seus irmãos Valmir e Antônio Limeira, a cunhada Geórgia Neves, a sobrinha Larissa Neves e o filho Wanderson, suspeito de operar a parte técnica das fraudes.

MÉTODOS DE FRAUDE E LAVAGEM DE DINHEIRO

As investigações apontam que o grupo usava tecnologia médica e mensagens criptografadas para se comunicar durante as provas. Em alguns casos, dublês realizavam as avaliações no lugar dos candidatos.

Os pagamentos variavam conforme o cargo e o concurso, sendo feitos em dinheiro, ouro, veículos e até serviços odontológicos. Para disfarçar as movimentações, o grupo teria usado “laranjas”, imóveis e empresas de fachada — entre elas uma clínica odontológica.

ALCANCE DAS FRAUDES 

A “Máfia dos Concursos” teria atuado em certames da Polícia Federal, Caixa Econômica, Banco do Brasil, UFPB e Polícias Civil e Militar, além do Concurso Nacional Unificado (CNU).

No CNU de 2024, ao menos 10 candidatos teriam sido beneficiados, apresentando gabaritos idênticos, inclusive nos erros. A PF comparou a probabilidade de coincidência a “ganhar 19 vezes seguidas na Mega-Sena”.

OPERAÇÃO ÚLTIMA FASE E MEDIDAS JUDICIAIS

A operação foi deflagrada em 2 de outubro, resultando em três prisões preventivas e mandados de busca e apreensão em Recife (PE) e Patos (PB). A Justiça determinou a suspensão da posse dos candidatos aprovados de forma fraudulenta e o afastamento de servidores suspeitos.

O juiz responsável pelo caso destacou que o grupo contava com especialistas de diversas áreas, o que aumentava significativamente as chances de sucesso nas fraudes.

O QUE DIZEM OS INVESTIGADOS

As defesas negam qualquer envolvimento e afirmam que as acusações se baseiam apenas em indícios. Alguns investigados alegam colaboração com a PF e reforçam que ainda não há denúncia formal. Os advogados pedem respeito à presunção de inocência e ao devido processo legal.