Zelador de colégio pede demissão após receber bilhete racista: 'Nojo da sua raça'
29 NOV 2025 • POR Da Redação • 10h51Um bilhete com frases racistas levou o zelador Almiro Martins, de 21 anos, natural de Luanda, a pedir demissão do colégio particular onde trabalhava em Anápolis, a 55 km de Goiânia. A mensagem, encontrada na última terça-feira (25), continha ataques diretos à sua origem africana e o levou a encerrar uma rotina que vinha sendo marcada por reconhecimento profissional.
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BILHETE AFETOU A AUTOESTIMA DA VÍTIMA
Segundo a esposa de Almiro, a professora Ruth Rocha, o impacto emocional foi imediato. Ela conta que o marido, que havia sido promovido duas vezes em apenas cinco meses, ficou profundamente abalado.
“Isso mexeu diretamente com a autoestima dele. Ele mesmo disse: ‘No meu país eu não precisava me preocupar com a minha cor, agora eu preciso’”, relatou.
Ruth estava na escola quando o bilhete foi encontrado. O casal ainda tentou retomar a rotina, mas o choque tornou o dia “um dos mais difíceis”, segundo ela. A decisão de registrar o boletim de ocorrência veio do entendimento de que o caso precisava ser exposto.
“É importante que as pessoas entendam que o racismo ainda existe em pleno 2025. A falta de empatia alimenta esse tipo de crime”, afirmou.
[HOSTILIDADE NO TRABALHO
Paulino Henjengo, irmão de Almiro, afirmou que o jovem já enfrentava situações incômodas no local de trabalho, incluindo tentativas de associá-lo a supostos furtos e até acusações sem fundamento. A família acredita que o destaque profissional do rapaz pode ter despertado hostilidade.
“As pessoas começaram a olhar para ele com maldade”, disse Paulino.
Após encontrar o bilhete, Almiro pediu demissão imediatamente. O boletim de ocorrência foi registrado no mesmo dia, e o casal deve levar o caso à delegacia especializada em crimes de racismo, em Goiânia.
ESCOLA REPUDIA O EPISÓDIO
O sócio-proprietário do colégio, Ivan de Abreu Júnior, divulgou um vídeo classificando o crime como “covarde” e informando que a ação ocorreu em um “ponto cego” da instituição. Ele destacou a relação de amizade com o jovem zelador e disse que acompanhará as investigações.
“Minha maior preocupação é com o ser humano Almiro. Vamos descobrir quem fez essa covardia”, afirmou.
“RACISMO AINDA É REALIDADE”
A repercussão do caso gerou inúmeras manifestações de apoio. Ruth reforça que o episódio evidencia como o racismo segue presente no cotidiano brasileiro.
“Muita gente não tem dimensão do que é o racismo. Falta informação, orientação e empatia. No fim das contas, somos todos iguais”, destacou.
Almiro Martins, zelador angolano de 21 anos, e a noiva Ruth Rocha. Ele deixou o emprego após receber o bilhete racista; casal denuncia impacto emocional e pede justiça — Foto: Reprodução/Instagram de Almiro Martins