Recuo de rios expõe mudanças ambientais de comunidades do Bico
15 DEZ 2025 • POR Da Redação • 10h40
Comunidades tradicionais do norte do Tocantins relatam mudanças ambientais perceptíveis no dia a dia, especialmente na região do Bico do Papagaio, onde se encontram os rios Tocantins e Araguaia. Entre os principais relatos estão a redução do volume de água, alterações no regime de chuvas, aumento das temperaturas e maior frequência de incêndios florestais.
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Moradores, lideranças comunitárias e pesquisadores afirmam que essas transformações têm impacto direto sobre o modo de vida local.
DIMINUIÇÃO DO RIO TOCANTINS
No quilombo Carrapiché, em Esperantina, o líder quilombola Antônio Pereira de Jesus, conhecido como Piolho, acompanha há cerca de 30 anos as mudanças no rio Tocantins. Segundo ele, trechos antes navegáveis hoje apresentam bancos de areia e ilhas recentes, permitindo a travessia a pé em alguns pontos.
De acordo com o líder comunitário, a redução do nível da água ficou mais evidente após o aumento das queimadas nas margens, principalmente em 2023. A comunidade é formada por sete famílias que vivem em uma área de dez alqueires, parte dela ocupada por grileiros, segundo os moradores.
SUBSISTÊNCIA É AFETADA
A subsistência da comunidade depende do cultivo de feijão, banana e mandioca, além da pesca. Para reduzir a pressão sobre a vegetação e os efeitos do calor intenso, os quilombolas deixaram de plantar arroz.
“Em dias muito quentes, a água do rio fica morna à tarde”, relata Piolho, ao descrever mudanças antes inexistentes no cotidiano da comunidade.
RIO ARAGUAIA
Situação semelhante é observada ao longo do rio Araguaia. No povoado de Pedra Grande, no norte do estado, uma antiga estrutura metálica usada para atracar a balsa que faz a travessia para o Pará permanece distante da água há cerca de 20 anos, segundo moradores.
A pescadora aposentada Rosimeire Rodrigues afirma que os períodos de cheia estão mais curtos e com menor volume, enquanto as estiagens se tornaram mais longas.
DADOS E PESQUISAS
Relatório publicado em junho pela Ambiental Media, com base em 51 anos de dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), aponta redução significativa da vazão dos rios da região. A bacia do Araguaia registrou queda de 10% na vazão mínima, enquanto a bacia do Tocantins perdeu 35% da disponibilidade hídrica.
Diante da escassez de dados específicos sobre o norte do Tocantins, a Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) firmou parceria com a Universidade Estadual de Tyumen, da Rússia, para implantar uma Estação de Pesquisa e Monitoramento de Mudanças Climáticas no Bico do Papagaio. O projeto integra acordo de cooperação entre os governos brasileiro e russo.
Paralelamente, o ICMBio propôs a criação de Áreas de Proteção Ambiental no Bico do Papagaio e no Paleocanal do rio Tocantins. A proposta enfrenta resistência de produtores rurais, que temem restrições às atividades agropecuárias.
*Com informações da Folha de São Paulo