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A justiça humana tarda, falha, mas às vezes se mostra eficiente

22 novembro 2010 - 13h42

A justiça brasileira raras vezes mostrou-se eficiente nos julgamentos políticos. Dessa vez foi diferente; o judiciário precisou consertar o erro de 340.931 eleitores, 25,41% dos votos válidos, que resolveram depositar sua “confiança” em alguém que já tinha sido cassado pelo STF quando governador em 2009. O agora ex-senador eleito Marcelo Miranda (PMDB – TO) não foi injustiçado, só está colhendo o que plantou em terreno fértil. Ainda como governador, distribuiu mais de 80 mil óculos, cestas básicas e serviços a eleitores além da criação de mais de 35 mil cargos comissionados, nomeações irregulares e ainda deixou um legado de mais de 28 mil reais mensais na forma de vencimentos para os próximos governadores.

Com expressa votação que teve, questiono-me: “a voz do povo é, realmente, a voz de Deus?”. Sei que Deus jamais acobertaria a impunidade, a irresponsabilidade e o erro de um ex-governante. Aliás, os adágios não se mostram mais tão confiantes, inclusive os recentes. Vejamos: “a justiça tarda mas não falha”; “a voz do povo é a voz de Deus”; “vote no Tiririca, pior do que tá não fica”. Percebemos que a justiça tarda e falha, que a maioria, muitas vezes, erra em suas escolhas e que a situação sempre pode ficar pior.

A democracia é importante porque possibilita a liberdade dos cidadãos e garante os direitos individuais, porém, infelizmente, no Brasil, esta democracia é confundida com libertinagem nas escolhas. Dessa forma, resta à justiça, tentar minimizar ao máximo a atuação dos que se aproveitam da pobreza intelectual da massa brasileira. Aqui, sinto-me no direito de citar uma parte do discurso do presidente Lula, quando ainda candidato no ano 2000: “...lamentavelmente no Brasil o voto não é ideológico; lamentavelmente as pessoas não votam partidariamente e, lamentavelmente você tem uma parte da sociedade, que pelo alto grau de empobrecimento, ela é conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça, é por isso que se distribui tanta cesta básica...porque isso, na verdade, é uma peça de troca em época de eleição...você trata o povo mais pobre da mesma forma que Cabral tratou os índios...você tem como lógica manter a política de dominação que é secular no Brasil”. Dez anos depois percebemos a mesma forma de dominação e uma total inversão dos discursos.

Parabenizo os ministros do TSE pela belíssima atuação neste e em outros casos. Que a justiça conceda muitos diplomas carimbados pela expressão “Ficha-Suja” a todos aqueles políticos que não merecem ser chamados de representantes do povo. Infelizmente, a sociedade é tanto vítima quanto agente dessa corrupção endêmica e epidêmica. Somos agentes porque consentimos e aceitamos as trocas de favores, compras de votos e também porque somos telespectadores primários e coniventes dessa farra com o dinheiro que é do público. É por isso que dizemos que o povo tem o governo que merece. A corrupção é fruto da própria sociedade, que é corrupta.

Ficamos satisfeitos em escolhermos o “menos-ruim”. Entre os políticos, escolhemos aqueles que “rouba, mas faz”; na sociedade dizemos que “é melhor pedir do que roubar”. O interessante é que, quase ninguém, diz que o político tem que fazer sem roubar e que a pessoa tem que trabalhar antes de ir mendigar nas ruas. Constantemente alimentamos nosso ego dizendo que “todos os políticos roubam”, logo, a única possibilidade é escolher o menos-ladrão.

Boas escolhas se fazem com senso crítico e não com pensamentos medíocres.

www.arnaldo-filho.blogspot.com