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Uma visita à UFT

21 novembro 2010 - 00h08

Que sufoco não ser aluno, professor ou servidor da UFT (Universidade Federal do Tocantins) e visitar o campus de Araguaina. Digo isso porque ao menos eles convivem com as armadilhas existentes ali e ‘sabem desarmá-las’ por força de um exercício diário que a sobrevivência impõe-lhes.

A coisa piora se a visita for à noite e a pessoa ‘estranha ao meio’. Obriguei-me a isso um dia desses. O resultado: quase fui parar em um pronto socorro com suspeita de perna fraturada. A coisa foi mais ou menos como passo a narrar. Recebi convite de uma amiga, professora do curso de Letras, para visitar a exposição fotográfica de Emerson da Silva sobre a Roda de São Gonçalo, vertente do trabalho esplêndido do pesquisador Wolfgang Teske com os quilombolas da Lagoa da Pedra de Arraias, tuiteiro como eu, que conheceria ali pessoalmente.

Um programa e tanto para quem milita na área cultural e sabe quão raras são oportunidades tais em nossa cidade. Cometi o primeiro erro ainda em casa ao entrar no carro: era um veículo comum, desses de andar em cidade com ruas asfaltadas.

A experiência demonstrou que o local exige um robusto off-road de tração nas quatro rodas. Como o pátio do estacionamento estivesse lotado, encontrei um portão lateral aberto e achei de bom alvitre ir metendo o carro por ali. Foi meu segundo erro. Eu não sabia que o calçamento com pequenos blocos de cimento só ia até pouco depois do portão e por isso não imaginava a arapuca que me esperava. Transpus o portão e imergi na escuridão do pátio: não pude ver o fim do calçamento. Avancei. De repente o carro pareceu cair num despenhadeiro. Leitores, desculpem-me a hipérbole. Mas quem tem a convicção de deslizar num tapete e em seguida sente-se tragado por um vácuo vai concordar comigo. Confuso, abri a porta e procurei o chão. Foi meu terceiro erro. Afundei mais ainda. Talvez não fosse vítima de um despenhadeiro. Quiçá estivesse sendo sugado por um buraco negro. Hipérboles à parte, a língua portuguesa, coitada, ainda não inventou uma figura de linguagem capaz de expressar a situação. À falta de algo mais forte fiquemos com a hipérbole mesmo que transformada em eufemismo. Alguns alunos socorreram-me. E foi a minha salvação. Tiraram-me de dentro do buraco onde eu segurava a perna dolorida pelo pisão em falso.

Outros voluntariosos levantaram a frente do carro e forçaram-no para trás. Foi novamente posto na horizontal. Ainda atordoado, desculpei-me:—Gente, acho que invadi o canteiro de obras e destruí a vala que vai receber as manilhas da galeria pluvial.Um aluno galhofeiro deixou fruir sua verve:— Ou você é um gozador ou está desinformado: você caiu nas voçorocas que nos vão engolir um dia por erro na construção do Campus e falta de pavimento no pátio. Respirei aliviado por não ter causado prejuízo ao patrimônio público.— Menos mal, pensei que era uma obra. E ele tornou, zombeteiro:— Obra nada, é cagada mesmo.

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