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Por: João Gomes da Silva

Uma herança maldita

06 novembro 2011 - 11h36

A nação brasileira tem na sua formação cultural hábitos herdados das várias nações que por aqui passaram quando da sua colonização. Alguns desses hábitos são bons, outros toleráveis e, infelizmente, ainda outros, que deveriam ter sido expurgados definitivamente da nossa história e formação.

Essa bagagem impregnada em nossa cultura tem raiz européia com seu sistema monárquico de governo, suas damas vestidas a rigor, seus cavalheiros de paletós e gravatas, bigodes torcidos horizontalmente e os famosos penteados que à primeira vista já os destacavam dos demais. (Particularmente já fui chamado de “doutor” por está usando um lindo paletó).

A cultura africana também deixou suas marcas inscritas em nossa formação, onde estão presentes as danças, os tambores de criola, a capoeira, o berimbau, a culinária, onde se tem como prato preferido a feijoada, buchada e outras iguarias próprias desse povo. Ainda implantaram aqui o culto a várias divindades, com seus tradicionais terreiros com suas danças sagradas, onde essas crenças são praticadas fervorosamente.

Os asiáticos não menos influentes também marcaram a nossa história com suas habilidades comerciais, produção de hortaliças, formação familiar patriarcal, caráter firme e virtuoso e culto monoteísta. No caso dos judeus e mulçumanos, a abstinência de certos alimentos e bebidas alcoólicas. E, como se não bastasse, temos ainda as crenças, formas de cultos, hábitos alimentares e habilidades para caça e pesca enraizada em nossas atividades pelos povos que aqui já se encontravam, os quais equivocadamente foram chamados de índios, um erro nominal que não se corrigiu até hoje. Tudo isso tende a se perpetuar em nossa cultura, o que não deixa de ser importante na formação de uma nação.

Mas algo transmitido geneticamente não é tão bom assim e, particularmente me reporto aos condenados judicialmente por crimes hediondos e também por crimes religiosos sentenciados ainda na época do tribunal da santa inquisição criado pela igreja católica romana. Esses malfeitores ao chegar ao Brasil, na condição de prisioneiros foram pagar suas penas condenatórias policiando as minas de ouro, pois a coroa os via habilitados para essas atividades pelo grau de periculosidade e maliciosidade que possuíam em suas ações.

Ninguém ousava roubar os donos do ouro. Ali estavam presentes os mais temidos criminosos trazidos das masmorras européias. Há consenso de que a policia brasileira tem origem nesse modelo truculento original do Brasil colônia.

Eles proliferaram o nosso sangue, geneticamente temos um pouco de sangue de cada raça que aqui chegou. Mas assusta-me um tipo de “genes” que parece correr em nosso sangue com certo vigor identificado pela violência, covardia, criminalidade em todos os aspectos. E, também o da corrupção política generalizada, do caráter frágil e sem virtude moral.

É comum nos discursos políticos a afirmação de que o eleitor brasileiro não sabe escolher corretamente seus representantes. Mas como escolher? Em toda escolha que se faz se tem opção, no caso da política brasileira, escolher alguém com boa conduta é como jogar na loteria, ou caçar uma agulha no palheiro. É quase impossível! Fala-se em ficha limpa, mas limpar com quê? As leis criadas pelos próprios políticos já vêm infectadas pelas tendências protecionistas e poucos são alcançados punitivamente por elas.

Somos tal qual um leão adormecido, como o elefante no picadeiro ou como passarinhos criados em gaiolas. Vivemos a inércia, a passividade e certo tipo de torpor psicológico definido pelos dicionários de língua portuguesa como sendo um estado de sensibilidade reduzida. E, assim, preferimos cantar como Zeca Pagodinho aquela conhecida melodia que diz: “Deixa a vida me levar, vida leva eu”. Enquanto países do oriente fervem por mudanças como Egito, Líbia, Jordânia e outros, nós matamos e morremos numa guerra alimentada pela ausência do Estado e pela aceitação passiva e desastrosa de um povo que aprendeu viver a subserviência.


João Gomes da Silva é escritor e teólogo. Reside em Colinas do Tocantins. E-mail: [email protected]