Os sites de apostas esportivas são um fenômeno do mundo digital. No entanto, o que deveria ser apenas um momento de lazer se tornou caso de polícia. Nesta terça-feira (9), a Justiça aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) contra um grupo criminoso que atuava para manipular jogos do campeonato brasileiro das séries A e B.
Nesta segunda fase da Operação Penalidade Máxima, 16 pessoas foram denunciadas, entre elas Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos, e outros jogadores, como os zagueiros Victor Ramos e Paulo Miranda.
Registros dos celulares apreendidos na denúncia da máfia das apostas revelam acordos informais entre jogadores e os criminosos que comandam os esquemas de apostas no futebol brasileiro.
Em documento disponibilizado pelo próprio Ministério Público de Goiás e o GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), atletas como o zagueiro Bauermann, do Santos, Moraes, do Juventude (na época), e Nathan, atacante do Fluminense (na época), são expostos por conversas e até chamadas de vídeos com os apostadores.
Veja os prints da máfia das apostas divulgados pelo MP de Goiás:

Eduardo Bauermann, do Santos, foi um dos jogadores envolvidos na denúncia do MP de Goiás. Nos celulares apreendidos, foram encontrados registros do jogador do Santos em uma chamada de vídeo com os intermediadores das apostas. Com a camisa do Peixe, Bauermann aparece nas imagens sorridente - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Logo nas primeiras conversas com os apostadores, o zagueiro santista se mostra preocupado com a veracidade do acordo. "Me avisa antes se realmente vai dar para fazer, senão nem tomo cartão a toa. Entende?", questionou o jogador. Do outro lado, já após o jogo, Romarinho — um dos principais intermediadores das apostas — reclama da boa atuação do defensor e afirma que Bauermann vai arcar com o prejuízo. "Você foi pago para fazer o quê?", escreveu. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Em mais prints, Romarinho mostra desempenho do zagueiro, e Bauermann revela conversa com o outro intermediador, Luis Felipe Rodrigues de Castro. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

O zagueiro do Santos e Romarinho seguiram conversando e fazendo acordos informais. O primeiro acordo dizia que Bauermann deveria tomar um cartão amarelo na partida entre Santos e Avaí, válida pela Série A do Brasileirão 2022 (5 de novembro). Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Novamente em aposta, o defensor santista não cumpriu o combinado e voltou a ser cobrado pelos intermediadores. O segundo acordo dizia que o zagueiro deveria ser expulso no jogo contra o Botafogo. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

"Eu confiei em você, mano e você me desonrou", disse Romarinho a Bauermann. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Em mais conversas, o zagueiro "não acredita" que não conseguiu cumprir o acordo e se lamenta para Romarinho. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Exaltado, o intermediador reclama com Bauermann por não ter tomado um cartão vermelho ainda dentro de campo, como era combinado. O defensor do Santos realmente foi expulso, porém no final da partida, o que não contou para a aposta. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Em um dos últimos prints de conversa entre o santista e Romarinho, o zagueiro promete pagar a dívida pelo descumprimento do acordo e confessa que não usou o dinheiro que foi pago com antecedência. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Assim que notaram o descumprimento do acordo por parte do jogador, os apostadores não deixaram passar em branco e foram até a Baixada Santista para 'cobrar' Bauermann. "Vou mostrar para esse Bauermann como funciona", disse Bruno Lopez para Romarinho. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Uma das apostas mais robustas foi a de Fernando Neto, do Operário-PR, que negociou uma expulsão por R$ 500 mil, em partida entre o clube de Neto e o Sport, válida pela Série B do Brasileirão 2022. Nas mensagens trocadas com o intermediador, Bruno Lopez, o jogador afirma que tentou tudo que podia para cumprir o acordo. "Falta sem bola, falta fora do lance. Só faltou eu agredir o árbitro. O cara não quis me expulsar", escreveu o atleta. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

No print mais comprometedor em matéria de nomes, os apostadores citam acordos fechados entre eles e Moraes e Paulo Miranda do Juventude, cada um recebendo R$ 50 mil. Além dos dois, Kevin Lomónaco (RB Bragantino) e Igor Cárius (Ceará), pelo valor de R$ 60 mil cada um. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Tota e Paulo Miranda — também envolvidos na máfia das apostas no futebol brasileiro — jogam no Juventude e, assim como Bauermann, foram flagrados em chamadas de vídeo com os intermediadores das manipulações. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Em conversa direta com Romarinho, um dos intermediadores, Gabriel Tota cobra respostas do apostador e é questionado sobre o paradeiro do colega de time, Paulo Miranda. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Tota e Romarinho chegam a travar uma discussão sobre a possibilidade de o colega de equipe, Paulo Miranda, ter ou não tomado o cartão, como combinado entre as partes. "Fica suave que ele tomou. Estava na súmula já", disse Gabriel. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Em conversa resgatada do celular de Gabriel Tota, Paulo Miranda afirma que vai cumprir o combinado e "não vai deixar 'os mano' na mão", referindo-se ao grupo de apostadores. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Em capturas de tela resgatadas do grupo de apostadores, Moraes (Juventude) e Nathan (Fluminense) são citados nominalmente e com os valores que receberiam eventualmente como 'sinal' do acordo. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO

Nikolas Faria, jogador do Novo Hamburgo, também participou do esquema de manipulação de resultados. Intermediado por Luis Felipe, o jogador se comprometeu a cometer um pênalti durante a partida contra o Bento Gonçalves (Campeonato Gaúcho 2023). Nikolas recebeu R$ 5.000 antecipados, de um total de R$ 80 mil, conforme combinado com Luis Felipe. " Estava nervoso, né. Achou que o 'penal' não sairia. Aqui é palavra de homem", escreveu o jogador para o intermediador. - Divulgação / Ministério Público de Goiás / GAECO