Dados da Polícia Federal obtidos pelo Jornal Opção Tocantins mostram que, somente em 2025, 804 pessoas foram registradas como Colecionador, Atirador e Caçador (CAC) no Tocantins. O número eleva para 7.723 os contratos ativos no estado — certificados que permitem aos inscritos acessar armas de fogo para colecionamento, tiro desportivo ou caça controlada.
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A discussão voltou ao centro do debate público após o assassinato do vigilante Dhemis Augusto Santos, de 35 anos, morto a tiros na noite de 29 de novembro, na região central de Palmas. O autor dos disparos, Waldecir José de Lima Júnior, é registrado como CAC.
A defesa do suspeito alegou que ele teria apresentado “surto psicótico”. No entanto, para obter o Certificado de Registro (CR), é obrigatório apresentar laudo de aptidão psicológica e comprovar que não responde a inquérito ou processo criminal.
Apesar disso, Waldecir já havia sido flagrado com arma sem porte em 2013, em uma churrascaria, mas o processo foi suspenso após acordo judicial.
A reportagem questionou a Polícia Federal sobre o caso e aguarda posicionamento oficial.
FISCALIZAÇÃO MUDA E REGRAS FICAM MAIS RÍGIDAS
O Decreto 11.615, assinado em julho de 2023, transferiu definitivamente para a Polícia Federal a gestão e fiscalização dos CACs, antes feita pelo Exército Brasileiro. A mudança — antecipada de 2025 para 2023 — buscou endurecer o controle de armas, limitar calibres, regulamentar quantidades e reforçar critérios para porte e trânsito de armamentos.
Com a nova estrutura, o governo federal anunciou investimento de R$ 20 milhões para criar delegacias especializadas de controle de armas em todas as capitais e no Distrito Federal, além de núcleos em delegacias do interior, totalizando 123 unidades. Cerca de 600 servidores serão capacitados para a função.
EXPLOSÃO DE REGISTROS NO PERÍODO BOLSONARO
Nos últimos anos, o número de CACs no Tocantins passou por variações bruscas:
2018 (antes do governo Bolsonaro): 102 registros
2019: 410
2020: 740
2021: 1.614
2022 (pico): 3.046
2023 (após nova regulamentação do governo Lula): 5
2025: 804
O salto durante a gestão Bolsonaro ocorreu após flexibilização de normas para acesso a armas. Já a queda acentuada em 2023 está relacionada ao endurecimento das regras no governo Lula.
VENDA DE MUNIÇÕES CAI APÓS REFORÇO NO CONTROLE
Segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, o impacto das mudanças regulatórias também aparece nos números de munições vendidas:
Governo Bolsonaro: 420,5 milhões de unidades
2024: 259,6 milhões — queda de 38,3% em relação a 2022
O número de armas apreendidas pelas polícias estaduais também registrou redução: de 106.039 em 2023 para 102.692 em 2024, queda de 3,6%.
DEBATE SOBRE FISCALIZAÇÃO GANHA NOVA DIMENSÃO
O homicídio em Palmas reacende questionamentos sobre o processo de concessão, revisão e monitoramento de registros CAC, especialmente em casos nos quais o inscrito já apresentou histórico de condutas irregulares ou possíveis problemas psicológicos.
A expectativa agora recai sobre o posicionamento da Polícia Federal, que deve esclarecer se o suspeito cumpria todos os requisitos no momento em que seu registro foi concedido.

Foto: Reprodução/PF


Homem com certificado de CAC matou vigilante de shopping em Palmas com arma de fogo - Crédito: Reprodução 


