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SAÚDE

Hepatite misteriosa: quais as descobertas mais recentes sobre a doença e como proteger as crianças

12 maio 2022 - 14h56Por R7 Notícias

Autoridades sanitárias de dezenas de países estão intrigadas com os casos de hepatite aguda de origem desconhecida que têm afetado crianças e adolescentes desde, pelo menos, outubro do ano passado. A doença já levou 348 pacientes pediátricos à emergência de hospitais em 20 países. Alguns deles precisaram de transplante de fígado. No Brasil, 17 diagnósticos estão sob investigação.

A principal característica em comum a todos os pacientes é que eles não apresentam infecção por nenhum dos cinco vírus causadores de hepatite nem tiveram exposição em comum a algum agente tóxico capaz de desencadear a doença.

O ECDC (Centro Europeu de Controle de Doenças) emitiu recentemente um documento em que orienta os países-membros na classificação dos casos.

A diretriz, todavia, não considera que existam casos confirmados, justamente porque a suspeita é feita a partir da eliminação de outras causas, não havendo um exame específico para confirmar esse tipo de hepatite.  

O órgão trata como caso provável "uma pessoa com hepatite aguda (vírus não-hepatite A, B, C, D e E*) com aspartato transaminase (AST) ou alanina aminotransferase (ALT) acima de 500 UI/L, que tenha 16 anos ou seja mais jovem, desde 1º de outubro de 2021". AST e ALT são enzimas do fígado que indicam lesão no órgão quando são liberadas no sangue.

Os principais sintomas registrados em hospitais de todo o mundo são icterícia (pele e parte branca dos olhos amareladas), que se dá pela incapacidade do fígado no processamento ideal de glóbulos vermelhos do sangue, e manifestações gastrointestinais, como dor abdominal, vômito, diarreia e náusea.

Outros sinais de doença aguda do fígado podem incluir:

• febre;
• cansaço;
• perda de apetite;
• dor abdominal;
• urina escura;
• fezes de cor clara;
• dor nas articulações.

Onde a hepatite aguda em crianças e adolescentes já foi detectada

• Reino Unido;
• Estados Unidos;
• Canadá;
• Espanha;
• França;
• Áustria;
• Alemanha;
• Polônia;
• Irlanda;
• Holanda;
• Noruega;
• Dinamarca;
• Itália;
• Romênia;
• Bélgica;
• Israel;
• Japão;
• Argentina;
• Panamá;
• Indonésia.

No Brasil, quatro estados investigam casos de pacientes cujos sintomas e exames laboratoriais apresentaram características semelhantes às observadas nesses países.

Rio de Janeiro

A Secretaria de Estado da Saúde do Rio de Janeiro informou que há seis casos suspeitos: três na capital (uma criança de 4 anos, uma criança de 8 anos e um bebê de 2 meses), um em Niterói (criança de 3 anos) e um em Araruama (criança de 2 anos). Ainda segundo a pasta, a morte de um bebê de 8 meses também é objeto de apuração.

São Paulo

Sete casos suspeitos de hepatite aguda provocada por agente desconhecido em pacientes pediátricos estão sendo acompanhados pelo CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica) do Estado de São Paulo.

De acordo com o órgão, os pacientes são da capital, São José dos Campos e Fernandópolis. "Apenas dois desses pacientes estão internados e os demais evoluem bem", diz a Secretaria de Estado da Saúde.

Paraná

A Secretaria de Estado da Saúde paranaense divulgou três casos suspeitos, porém um já foi descartado. Outros dois diagnósticos, de meninos de 8 e 12 anos, continuam em apuração.

Santa Catarina

O estado acompanha dois casos. Um deles, notificado no dia 4 de maio, é de uma criança de 7 anos que foi internada em um hospital de Itajaí. O paciente apresentava quadro de hepatite aguda, caracterizado por icterícia, náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal. Após evoluir bem, ele recebeu alta no dia 9.

O segundo caso é de um paciente de 16 anos que apresentou sintomas como náuseas, vômito, sonolência, urina de cor escura e febre no dia 29 de abril. Exames realizados em um hospital de Balneário Camboriú mostraram alterações nas enzimas hepáticas.

"Ele aguarda resultado de exames para hepatite do tipo A, sendo negativo para os tipos B e C, além de outros exames complementares. O jovem não necessitou internação e está sendo acompanhado em casa pela vigilância epidemiológica estadual e municipal", diz a secretaria em nota.

Quais as suspeitas da origem?

As investigações epidemiológicas e laboratoriais sugerem que pode haver uma relação entre a hepatite e a infecção pelo adenovírus 41F, causador de gastroenterite em crianças, mas sem histórico de provocar lesões no fígado, segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos.

Ocorre que nem todos os pacientes que desenvolveram a doença tiveram exame positivo para o adenovírus 41F. Alguns tinham sido infectados pelo coronavírus, causador da Covid-19.

"Neste momento, a causa das doenças relatadas nessas crianças ainda é desconhecida. Embora o adenovírus tenha sido detectado em algumas crianças, não sabemos se é a causa da doença. Não sabemos e estamos investigando o papel de outros fatores nessa doença, como a exposição a toxinas ou outras infecções que as crianças possam ter", informa o CDC.

A Opas (Organização Pan-Americana de Saúde), braço da OMS (Organização Mundial da Saúde) no continente americano, esclarece que algumas infecções graves por adenovírus provocaram hepatite em pacientes imunocomprometidos ou transplantados, por exemplo.

"No entanto, essas crianças não correspondem a essa descrição – elas eram previamente saudáveis."

A OMS ressalta que existem mais de 50 tipos de adenovírus que podem causar doenças em humanos e que o 41 geralmente provoca diarreia, vômito e febre, muitas vezes acompanhados de sintomas respiratórios.

"Fatores como aumento da suscetibilidade entre crianças pequenas após um nível mais baixo de circulação de adenovírus durante a pandemia de Covid-19, o potencial surgimento de um novo adenovírus, bem como a coinfecção por Sars-CoV-2, precisam ser mais investigados."

A organização reforça que não há evidências que suportem a relação com as vacinas contra a Covid-19. 

"As hipóteses relacionadas aos efeitos colaterais das vacinas Covid-19 não são suportadas atualmente, pois a grande maioria das crianças afetadas não recebeu a vacinação contra a Covid-19." - Organização Mundial da Saúde

A entidade avalia que não há informações suficientes para definir se há um surto. Por essa razão, considera o risco global baixo.

"É possível que estejamos tomando conhecimento de uma situação que existia antes, mas que passou despercebida porque eram poucos os casos", acrescenta.

Como é feito o tratamento?

Os pacientes que apresentem sintomas de hepatite, seja qual for a origem, devem ser tratados de forma a aliviar esses sintomas e deixá-los estáveis.

Uma dieta adequada e repouso podem ser suficientes em alguns casos. A maioria deles evolui sem complicações.

Todavia, em indivíduos com insuficiência hepática a única solução é o transplante de fígado.

Como proteger as crianças e adolescentes?

O desconhecimento que ainda existe acerca desse tipo de hepatite faz com que medidas de controle eficazes não possam ser estabelecidas, segundo o ECDC.

"A exposição fecal-oral a vírus como adenovírus é mais provável em crianças pequenas. Recomendamos, portanto, reforçar as boas práticas gerais de higiene (incluindo a higiene cuidadosa das mãos, a limpeza e a desinfecção de superfícies) em ambientes frequentados por crianças pequenas", afirma o órgão.

A Opas sugere também medidas que protejam da infecção pelo adenovírus. O uso de máscara é uma delas, além da etiqueta respiratória (cobrir a boca ao tossir ou espirrar).

Como é algo ainda raro, o mais indicado por especialistas é que os pais observem os sintomas da doença e, ao suspeitarem de hepatite, procurem um serviço de saúde.