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COVID-19

Ministério divulga número de curados; especialistas divergem sobre importância de contabilizá-los

15 abril 2020 - 10h01Por Uol

O Ministério da Saúde divulgou pela primeira vez o número de recuperados do coronavírus no país: eles são 14.026, o que representa 55% dos infectados. A partir do número total de curados, é possível avaliar o grau de imunização da população para, futuramente, embasar o relaxamento de medidas de isolamento social. Também é possível avaliar a demanda por leitos no sistema de saúde durante a epidemia.

Referência para dados de coronavírus, o levantamento da universidade norte-americana Johns Hopkins mostra que o mundo registra, em média, um quarto de recuperados da doença do total de infectados registrados (cerca de 2 milhões). Até ontem, o Brasil dispunha apenas de dados informais sobre curados, enquanto outras nações já trabalhavam com seus consolidados oficiais. 

"Vínhamos sendo cobrados: 'Quanto pacientes são recuperados?' Parece que Ministério da Saúde propositadamente não apresenta o número de curados. A gente fez uma pesquisa de como os outros países mostraram essa informação. Utilizamos a mesma regra, que é em cima dos 25.262 comprovados", explicou João Gabbardo, secretário-executivo do Ministério da Saúde.

Segundo ele, do total de casos confirmados, 1.532 pessoas morreram, 9.704 estão internadas ou aguardam recuperação e 14.026 estão curadas. 

Isolamento social e demanda por leitos

Entre especialistas, há opiniões diversas sobre a importância de se conhecer o total de curados.

O pesquisador do Instituto de Biologia da Unicamp e professor Alessandro Faria, que é coordenador da força-tarefa contra Covid-19, diz que é preciso saber se há uma real imunidade para quem supera a doença. Lembrou que, na China e na Coreia do Sul, surgiram dados controversos sobre reinfecção em novos testes.

"É especialmente importante para profissionais de saúde que são mais infectados do que a população. Não adianta ter mais leito e não ter quem opera. Se pudesse ter a certeza de que estão imunes, seria importante", analisa Faria.

O pesquisador avalia que a tendência é de que pegar a doença gere alguma imunidade, embora não dê para saber no momento por quanto tempo. 

"Se você pensar em política global, você vai começar a fazer teste em massa. Os positivos, com 15 dias, testam anticorpo contra o vírus, estão protegidos. Podem voltar a trabalhar. Aos poucos, diminui o isolamento social". (Alessandro Faria, pesquisador do Instituto de Biologia da Unicamp)

 

Já para o infectologista Victor Roma, o dado de curados é secundário para o controle epidemiológico. Na sua visão, é mais relevante controlar o número de mortes e o de internações para saber se o sistema de saúde vai aguentar proteger a população durante o surto. Ele entende que o dado dos curados seria relevante se houvesse um quadro mais completo da epidemia de covid-19.

"Se nos tivéssemos como saber quem já se infectou no passado e qual percentual da população já contraiu a doença, seria uma informação excelente. No entanto, os dados de notificação de casos, em quase todos países, são muito frágeis para fazer essas estimativas", analisa Roma, que é mestre em Medicina Tropical e Saúde Internacional pela London School of Higiene and Tropical Medicine.

Sem a precisão desse dado, ele entende que o número de hospitalizações indicará quando será possível relaxar as medidas de distanciamento social.

Por outro lado, o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade de Pelotas, avalia que é "super relevante" para o gestor de saúde saber o número de curados. Na visão dele, é com esse levantamento que se poderá observar quantos são os casos de coronavírus leves ou sem sintomas em relação ao total de infectados. Dessa forma, é possível avaliar a necessidade de leitos para a população.

"Quantas pessoas não vão ter nada [ao contrair a doença]? Quantas vão ter sintomas muito leves? Quantas vão precisar só de cuidados muitos leves, mas não graves? As últimas são as que vão precisar de internação em UTI. (...) O número de curados é importante para saber a demanda do sistema de saúde" Pedro Hallal, epidemiologista

 

Hallal lidera um estudo na Universidade de Pelotas para identificar o percentual de infectados no Rio Grande do Sul, citado ontem pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Isso será feito por meio de 18 mil testes aplicados à população, associados a entrevistas. Assim, o objetivo é saber qual o tamanho real da epidemia no Estado.

O cientista entende que, em sua pesquisa, poderá ter um levantamento dos curados percentualmente no estado, já que os testes identificam anticorpos desenvolvidos pelas pessoas se já tiveram o vírus.