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PARAÍSO

"Paraíso precisa de um choque de gestão"

12 dezembro 2011 - 10h01

Ele tem consciência da dificuldade em repetir o choque de gestão que aplicou na prefeitura de Paraíso do Tocantins nos anos 80, que seria responsável pela sua ascensão ao governo do Estado dois anos depois de deixar o comando da administração municipal. Também admite que possa perder as eleições, mas está disposto a correr riscos. O ex-governador Moisés Avelino (PMDB) revela que gostaria de voltar ao comando da Prefeitura de Paraíso para mostrar que é possível fazer muito, mesmo com poucos recursos.

Ele reconhece que a cidade mudou, cresceu e ganhou novos desafios. Aponta a necessidade de o poder público manter diálogo aberto e contínuo com a sociedade para tentar descobrir as suas necessidades e estabelecer as prioridades da gestão. “Paraíso cresceu, os problemas se agigantaram, tem muitos e muitos problemas que naquela época não tinham. E há também as dificuldades naturais de cada prefeitura”, ressalta, observando que hoje as prefeituras estão inchadas de funcionários.

Moisés Avelino diz que não precisa pesquisa para saber que um dos graves problemas de Paraíso é a educação. Ele está convicto que é preciso mobilizar forte investimento para mudar esse quadro. “Temos que buscar pessoas e segmentos que possam nos ajudar nessa transformação, montar uma estrutura educacional que possa se perpetuar depois da saída do prefeito que a criou, porque é ao longo do tempo que ela vai sentir a melhora.” O ex-governador ressalta que é inadmissível ter crianças fora da sala de aula por falta de escola.

Moisés Avelino fala sobre a campanha pela criação dos Estados de Tapajós e Carajás, avaliando que se forem criados não prejudicam em nada o desenvolvimento do Tocantins. Avelino faz ainda um balanço do governo Siqueira Campos, dizendo que ele enfrentou muitas dificuldades no primeiro ano e espera que em 2012 o governo possa deslanchar.

O sr. já decidiu que será candidato a prefeito de Paraíso?

Sou pré-candidato. Tem também o Roberto Bandeira, mas nós nos entendemos, a gente sai juntos em qualquer circunstância no ano que vem. Estamos administrando problemas particulares para ser candidato e também para começar a partir do início do ano as articulações políticas, para ver com quem a gente pode contar e compor. Nós estamos trabalhando nesse sentido e dentro do PMDB já é consenso que o candidato, se for possível será o meu nome, e comporia com o Roberto Bandeira de outra forma. Ainda é muito cedo para se dizer que sou candidato, mas estamos trabalhando para em junho oficializar este projeto na convenção.

Como vai ser a sua campanha?

Não tenho muito ideia, porque a forma de fazer campanha mudou, mas a minha não vai ser muito diferente. Se eu me tornar candidato a minha campanha vai ser de pés no chão. O que eu fiz no Estado, fiz quando fui candidato a prefeito, sola do sapato, saliva e suor. É a única maneira de fazer campanha mais barata. Eu não tenho condições e jamais queria ter estrutura cara para fazer uma campanha moderna. Vou fazer uma campanha de visitas, de andar nas casas, visitar todo mundo, pedir o apoio de quem já apoia e confirmar esse apoio, buscar outros apoios, conquistar votos, conquistar lideranças para ajudar a me eleger. Num município como Paraíso há possibilidade de fazer uma campanha de dois a três meses dessa forma.

O sr. se notabilizou politicamente pelo choque de gestão que conseguiu imprimir em Paraíso. Vai conseguir repetir o fenômeno de 82?

Encontrei uma pessoa que não é muito ligada a mim, nem é meu conhecido velho, que disse: eu queria cumprimentar o senhor pela sua humildade. O senhor começou sua vida pública em Paraíso como prefeito, foi deputado, foi governador e agora coloca o seu nome para ser candidato a prefeito. Então eu acho que acima de tudo o senhor é humilde ao voltar a tentar ser prefeito. Tenho dito que ninguém pode criar uma expectativa de superar a administração que eu fiz em Paraíso, quando a cidade era menor, que eu fiz no Estado quando fui governador. Hoje as circunstâncias são outras. Paraíso cresceu, os problemas se agigantaram, tem muitos problemas que naquela época não tinham. E hoje há também dificuldades naturais de cada prefeitura. As prefeituras hoje são inchadas de funcionários, concursos feitos em fim de mandatos enchem a máquina e isso pesa bastante. Não tenho a pretensão nem de criar essa expectativa que vou fazer um governo melhor do que o que fiz naquela época. As épocas são diferentes. Eu vou trabalhar com seriedade, com transparência, usar o que é do povo em benefício do povo com prioridades, discutindo com a própria comunidade o que é mais urgente a ser feito e tentar fazer o melhor. Se eu der conta de melhorar a cidade, de cuidar da comunidade mais pobre e carente da periferia, e quando eu digo cuidar não é dar as coisas, é dar condições de vida melhor. Cuidar das ruas, da área social, se a gente conseguir com os recursos da prefeitura, que são parcos. Eu ouço dizer que a prefeitura não trabalha porque não tem dinheiro. Eu quero ver se não tem mesmo, quero passar por essa experiência, porque acredito que o recurso é escasso, mas se quiser fazer se faz muito com o pouco que tem. Eu quero fazer esse teste sem criar expectativa na comunidade de que eu possa superar outras administrações, minha ou de outras pessoas. Vou fazer o que for correto e o que for possível. Paralelamente buscar os recursos que hoje se tem em Brasília e no governo do Estado para alavancar mais obras e benefícios para a nossa cidade.

É visível que Paraíso precisa de uma gestão inovadora, capaz de retomar o desenvolvimento do município. Qual é o seu projeto para Paraíso?

Minha experiência leva a acreditar que não é mais possível se administrar um município como eu administrei Paraíso; não é mais possível administrar o Tocantins como eu administrei e os outros governadores administraram. Se quisermos ter sucesso na parte administrativa, na economia e no desenvolvimento do Estado, como o povo deseja e precisa, temos que dar um choque de gestão. Esse choque não é o Moisés que vai fazer sozinho, não é o pessoal que me acompanha, porque nós temos as nossas carências naturais e temos que buscar recursos. Virando prefeito de Paraíso, antes da posse já quero buscar caminhos, quero buscar alguém que nos ajude a dar um choque de gestão em Paraíso. Quem sabe se não conseguirmos isso com ajuda de pessoas já entendidas nisso, e a gente não possa amanhã servir de exemplo para outros municípios. Eu penso assim e estou fazendo alguns contatos na UFT, buscando pessoas que têm ajudado vários governos desse País, de vários municípios, para nos ajudar e nos orientar como fazer. E a gente precisa ter vontade política e coragem de fazer. Por que há choque entre os próprios companheiros na hora de fazer, muitos pensam que a prefeitura é ganhar e um grupo sair, mas não é essa questão. A questão é montar um choque de gestão que possa mudar a mentalidade do administrador e da própria comunidade e isso reflete na hora que vem os benefícios. Olha o que aconteceu em Minas Gerais com Aécio Neves e com Eduardo Campos em Pernambuco! Li entrevista do José Gerdau na “Exame”, ele diz realmente da dificuldade que tem de implantar o que os empresários querem na área pública, das dificuldades imensas pela estrutura montada e os interesses dos grupos que ali estão. É preciso de tempo, paciência, coragem e determinação. Eu vou buscar onde for preciso alguém que possa nos ajudar a dar esse choque de gestão com mais rapidez e automaticamente com mais eficiência.

Paraíso é a quinta maior cidade do Estado, é polo regional e tem vocação progressista, mas tem problemas graves de infraestrutura que travam o seu desenvolvimento. Qual é o grande desafio?

Paraíso precisa de tudo um pouco. A infraestrutura precisa continuar sendo feita, precisa recuperar o que já estragou e não deixar acabar o que tem. Tudo isso requer muito dinheiro e aí está o gargalo da administração. A infraestrutura é importante, mas o fundamental é a educação. Na educação é preciso dar um choque de qualidade. Se me perguntar como vou fazer, eu não sei, porque não sou educador, mas sei que temos que qualificar o pessoal, dar estrutura melhor, buscar pessoas e segmentos que possam nos ajudar nessa transformação, montar uma estrutura educacional que possa perpetuar depois da saída do prefeito que a criou, porque é ao longo do tempo que ela vai sentir a melhora. Nós temos carência de vaga para crianças e, além disso, temos a área social. As cidades crescem na parte econômica, o empresariado cresce, implanta, melhora, qualifica melhor e Paraíso tem crescido muito nessa área e o comércio acredita na região e na cidade e tem investido nos seus negócios e isso é muito importante. É preciso atentar que paralelamente a esse crescimento da nossa economia, do nosso comércio, cresceu também a periferia e a carência. Como em toda o País, o mais grave é a falta de trabalho para a juventude. Temos que buscar políticas de governo para encaminhar esse pessoal. Paraíso é uma cidade polo do Vale do Araguaia e que se não parar no tempo vai continuar sendo cidade referência. Temos que buscar também fazer com que os jovens tenham condições melhores de fazer um curso superior. Buscar o empresariado de Paraíso para a gente sentar e discutir o que é preciso fazer para que Paraíso continue crescendo e se desenvolvendo e buscar ideias com todos os setores e as parcerias necessárias para implantar tudo isso. E continuar com o parque industrial crescendo porque à medida que ele cresce mais empresas vão chegando e absorvem mais mão de obra.

Outro momento importante de Paraíso foi quando o sr. foi governador e dotou a cidade das obras necessárias, mas que não teve continuidade nos governos seguintes. Como obter o apoio indispensável do governo do Estado?

Eu vou buscar tanto no Estado quanto no governo federal, e muitas coisas a gente vai conseguir se tivermos boa assessoria e fazer projetos viáveis. Depende muito da abertura dos governos estaduais, de como é a visão de cada um, como é o que eles entendem e enxergam os municípios. Nosso papel vai ser planejar e buscar isso. Se não conseguirmos tudo, pelo menos grande parte vamos conseguir.

O sr. deu apoio decisivo para o governador Siqueira Campos vencer as eleições. Vai cobrar o seu apoio em contrapartida?

Não. Após 30 anos sendo adversário de Siqueira Campos eu o apoiei e todo mundo sabe as razões, eu disse publicamente. Mas também falei publicamente que ele nada me devia nem deve. Foi uma questão de ampla consciência que tomei aquela atitude com prejuízo pessoal meu, ninguém é bobo de não saber disso. Fiz com a consciência de que estava fazendo o que era o melhor para o Estado, naquela circunstância. Daí para frente não há nenhum compromisso meu com ele nem dele comigo. Eu nunca conversei política com o governador, mas em razão da minha atitude, da minha posição que foi fundamental na sua eleição a gente teve um relacionamento de boa vizinhança. Me trata bem, eu também o trato, mas eu converso com ele muito pouco, não frequento o Palácio (Araguaia), fui algumas vezes no início, e quando nos encontramos temos um relacionamento cordial e ele sempre demonstra na conversa assim certa gratidão pelo que eu fiz e não tem passado disso. Ele não me deve nada, eu não devo nada e se eu virar prefeito de Paraíso vou buscar o que a cidade precisa. Paraíso sempre votou nele e deu maioria fundamental na eleição dele agora. Vou buscar no Estado um direito que nós temos e se ele entender que é possível ajudar Paraíso bem, se não, nada de compromisso ou negociação nesse sentido.

Esse apoio não altera em nada o palanque em Paraíso, ou seja, o sr. não se incomodaria de vê-lo no palanque do adversário?

Não sei dizer por que nunca conversei e também não tenho nem noção de quem ele pode apoiar em Paraíso. Ele tem os correligionários dele, da base política dele, eu entendo que eles são importantes para ele e que eu sou uma ovelha desgarrada. Tomei essa posição pessoal, mas nunca tive problemas com o PMDB, jamais vou deixar o meu partido de fora e se os peemedebistas quiserem me ajudar vou recebê-los de braços abertos. Se o governador entender e tomar posição a gente pode conversar para ver como administrar isso. Eu sei que tenho pretensão de ser candidato a prefeito, vou ser e acho que é uma disputa muito localizada, mas também ninguém é bobo de não entender que qualquer governo tem peso político em qualquer cidade com a máquina, a estrutura. Eu serei candidato pelo PMDB, o meu partido. Discordo de alguns segmentos do partido, é natural, como eles discordam de mim e a gente tenta exercitar a democracia na hora oportuna.

O sr. faz alguma ligação com a saída repentina do Igor Avelino da Secretaria da Habitação e a aproximação ao ex-governador Marcelo Miranda?

Não. acho que não tem. Igor me disse o seguinte: pai, eu vou despachar com o governador e vou dizer a ele que eu tenho pretensão de deixar o governo no final desse ano ou no princípio do ano, para ele preparar um sucessor, posteriormente eu quero que o senhor vá lá comigo para agradecermos a ele a oportunidade que nos deu. Eu disse tudo bem. Ele foi lá cedo, à tarde quando voltou já estavam com o decreto pronto, como ele queria sair saiu logo. Eu acho que isso não tem nada a ver com problemas de Marcelo porque nunca fui inimigo nem tive problemas com Marcelo. O problema é deles, governadores (Marcelo e Siqueira). Eu acho que não tem conotação uma coisa com a outra e é mais pelo desejo que o Igor tinha de sair. Saiu numa boa, nós não tivemos a oportunidade de voltar lá para agradecer, mas o Igor agradeceu a ele e saiu com decência, com a cabeça erguida, sem trauma. Ele está satisfeito e o fato de como saiu é coisa passageira.

Que avaliação o sr. faz do governo Siqueira Campos?

O governo teve muitas dificuldades, no começo do ano o problema do orçamento, de acomodação, demissão de funcionários e os três primeiros meses foram de muito trauma. Todo governo tem a sua maneira de ser, sua forma de montar a equipe e o trabalho. Com todos esses problemas, teve essa parada e muita dificuldade na parte administrativa. Mas eu só sei das coisas através da imprensa. Pelas informações que chegam, entendo que agora neste final de ano ele deve ter arrumado a casa para a partir do próximo ano deslanchar com obras e trabalho. Até agora arrumou parte das estradas do Estado, as coisas emergenciais. Foi um ano difícil. O problema da saúde só agora diminuiu o oba oba, mas ainda não está resolvido, mas o fato é que sentou algum alicerce para ver se a coisa anda. A expectativa que se tem é que a partir do ano que vem a coisa deslancha, é o que nós desejamos. Eu não torço para a pessoa não sair bem, eu torço é para ter sucesso e se puder superar os anteriores melhor ainda. quem ganha é o Estado e o povo. Epero que nesses próximos três anos possa fazer um bom governo para que o Estado continue crescendo e desenvolvendo.

O Tocantins tem acompanhado o debate sobre a divisão do Pará com certa apreensão de que Palmas pode vir a perder. Como o sr. avalia esse movimento pela criação do Carajás?

A divisão do Estado do Pará, principalmente com o Carajás, é boa para ambas as partes de lá. O pessoal de Belém tem a preocupação de que perde, mas não perde, porque se perde algumas riquezas fica com outras. E é mais fácil administrar. Para a região do Carajás é excelente ter um governo local, como aqui no Tocantins. Quando dividiu Goiás o Tocantins tinha essa expectativa. Eu me lembro que uma época falava com o governador Mauro Borges que era contra para sensibilizar a ser a favor, mas ele não queria perder aquele vínculo umbilical que tinha ao longo da história, mas foi bom para Goiás, que ficou com o filé mignon, e foi bom para o Tocantins, porque o que nós conseguimos nestes anos de emancipação foi uma transformação fantástica. Não quero com isso dizer que não existem milhões e milhões de problemas. Foi importante e Goiás não perdeu muito com a criação do Tocantins e veio gente de lá e a mesma coisa eu digo que não acontece nada que vem nos prejudicar com a criação do Tapajós. As pessoas e os empresários que saíram de um lugar para aventurar em outro, isso nunca vai deixar de existir no mundo, se não for a criação de Estado existe outro chamamento. Uns vão e voltam, outros vão e ficam, mas outros chegam por aqui, para ir para lá passa por aqui, mas continua com gente por aqui, surge oportunidade e acho que não há prejuízo para nós. Eu acho que o que vai se estabilizando aqui vai continuar aqui.

O sr. diz que gostaria de ser prefeito de novo para mostrar que é possível fazer. O que vai ser possível fazer em Paraíso com os parcos recursos que o município tem direito de receber?

Sou consciente e não tenho expectativa de fazer uma administração extraordinária se for eleito prefeito de Paraíso. Vou fazer lá o que não sei se está sendo feito, que é pegar a sobra que tem do pouco em benefício da própria comunidade. Como se faz isso? Priorizando as necessidades. O que é mais urgente nós temos na cabeça, também ir nos bairros, buscar informações, ver o que eles tem na hora que eles puderem fazer alguma coisa, nós temos recursos que dá para fazer isso, qual é a prioridade? E fazer o que é possível ser feito e o que é mais urgente. O que eu posso economizar da administração pública de Paraíso? Eu sei que lá não tem muito dinheiro e os encargos para manter a máquina são altos. E pensar numa administração com os parcos recursos que todos falam que tem e as dificuldades naturais que andam as prefeituras, os endividamentos de muitas delas. Tenho dito que o que é fácil qualquer um resolve. Quando se tem em abundância nos cofres qualquer um faz muito e é fácil, agora a capacidade do gestor é dizer que faz com parcos recursos. É na carência, na falta, que você tem que mostrar competência. Não sei se vou conseguir fazer isso, mas eu quero, antes de encerrar a vida pública, ter mais esse desafio. Eu tive e tenho vontade, mas hoje não serei mais, de ser administrador de Palmas, e desafio qualquer prefeito que passou aqui, porque Palmas dá para se fazer um choque de gestão, trabalho excelente independente de recurso que venha do governo federal. Palmas é uma cidade rica, cheia de problemas, mas eu não estou aqui criticando o prefeito que está aí, mas eu daria um choque e faria, porque eu sei como fazer. Muitos não fazem. A minha experiência em Paraíso vai ser pequena, mas quem sabe eu não possa mostrar para outros municípios pequenos que é possível.

Como foi a sua chegada a Paraíso como médico e fazer uma revolução administrativa no município, ter virado governador e fazer esse caminho de volta?

Visitei um casal de uns 50 e poucos anos, e a senhora me contou que seu pai lhe tinha feito três pedidos antes de morrer, um desses pedidos é que enquanto eu ou alguém de minha família fosse político que ela não me abandonasse. Isso é muito gratificante. É pelo trabalho que eu fiz na época quando poucos faziam e eu vim de Goiânia para cá, recém-formado, e não foi fácil. Não tinha casa para morar, era muito difícil, muita precariedade, não tinha telefone, o asfalto era só num pedaço, gastava o dia todo para vir de Goiânia aqui. Foi difícil, mas enfrentamos e depois de nove anos dentro de um hospital, os amigos começaram a falar em política, e eu dizia que não podia falar em política senão teria que largar a profissão. Não dá para fazer medicina e política juntos, não há tempo para isso. Mas foram me convencendo e eu virei candidato a prefeito, virei prefeito. Aqui nessa região não se conhecia uma máquina de esparramar asfalto, patrol muito poucas, na prefeitura só tinha sucatas, não tinha máquina, não tinha estrutura, não tinha nada e eu comecei a calçar a cidade.

Começamos a fazer bloquete e quando colocamos só deu para fazer três quarteirões, eu pensei que não dava certo porque demorava demais. Pensei em fazer asfalto, mas a prefeitura não tinha máquinas. Então comecei a fazer reuniões, para saber quem poderia pagar 30% do valor da obra, a terraplenagem, nós tínhamos engenheiros e faziam, mas na hora do asfalto não tinha máquina. Tomamos emprestado a betoneira do DNER para tampar buraco e fazíamos e esparramávamos com patrol e os críticos dizendo que não ia prestar, mas fomos fazendo e a coisa pegou. Fiz escola e muitas outras obras e dava apoio a juventude na área do esporte, da cultura, fazia os festivais de canto, de música e literatura e dava prêmio. E começaram a crescer esses artistas nossos. Apareceram dos outros municípios e foram crescendo e criando mentalidade. Acabei também com os mendigos que tinha em Paraíso.

Um dia eu fui à festa dos velhos em Cristalândia e uma pessoa me perguntou o que eu tinha feito para acabar com os mendigos de Paraíso? E eu disse que os de lá eu dou trabalho e os de fora eu dou a passagem para eles irem para os municípios deles, e assim acabou. Mas então de tudo a gente cuidava um pouquinho e acabou funcionando e esse funcionamento a juventude, as crianças gostavam da gente. Criamos um trabalho de conscientização do aluno ao professor que o patrimônio público é dele e que não podia estragar. Tudo isso a gente fez, era cidade menor a gente podia ir às escolas, na semana da comunidade a gente estava nas salas de aula e isso era muito interessante e a gente foi criando essas alternativas e foi pegando e vinha gente do Sul do Pará, de outros municípios perguntado o que eu estava fazendo e me lembro que destacou eu aqui, o (Antônio) Pesconi em Colmeia e o Carlitão em Guarai, eram os três prefeitos que mais estavam conseguindo trazer as coisas e uma é essa forma de criar e priorizar e segundo, acredito eu que é a questão da transparência. É tentar priorizar as coisas, usar o dinheiro realmente para aquilo que é em benefício do povo. (Ruy Bucar/Jornal Opção )