Dois empresários tocantinenses, João Coelho Neto e José Gomes de Sousa Neto, investigados pela Polícia Federal (PF) na Operação Fames-19, fretaram um avião em maio de 2021 para viajar de Palmas a Alto Parnaíba (MA). O destino foi a inauguração da Ponte Estaiada, que liga Santa Filomena (PI) a Alto Parnaíba (MA), evento com a presença do então presidente Jair Bolsonaro, do então ministro da Infraestrutura e atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do vereador Carlos Bolsonaro.
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DENÚNCIA E EXTORSÃO

Imagens de câmera sobre o dia da extorsão | Foto: Reprodução TJTO
O caso começou a vir à tona em dezembro de 2021, quando José Gomes registrou denúncia de extorsão contra João Neto. Segundo os autos, Gomes alegou ter sido coagido a pagar R$ 1,5 milhão de propina vinculado a um contrato de 40 mil cestas básicas com a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social do Tocantins (Setas).
Em outubro de 2022, João Neto, o policial militar Rodrigo Westphan Barbosa de Jesus e Wolney Max de Souza foram condenados por extorsão contra o empresário. Imagens de câmeras de segurança registraram a intimidação no pátio da empresa de Gomes.
CONTRATOS IRREGULARES
Documentos apontam que João Neto e José Gomes firmaram contratos sem licitação com a Setas para fornecimento de cestas básicas. Ambos já haviam disputado cargos eletivos em 2020: João Neto como candidato a prefeito de Rio Sono e José Gomes como vice-prefeito em Nazaré.
A relação, antes marcada por negócios conjuntos, se transformou em disputa e troca de acusações, revelando, segundo os autos, um arranjo que conectava empresários, servidores e agentes políticos.
ESQUEMA MAIS AMPLO
A denúncia de Gomes deu início à Operação Phoenix em abril de 2022, conduzida pela Diretoria de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco). A Polícia Federal abriu a Operação Fames-19 em duas fases: 21 de agosto de 2024 e 3 de setembro de 2025.
As apurações indicam que contratos emergenciais financiados pelo Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) e por emendas parlamentares poderiam ter sido usados para desviar recursos. Do total pago, R$ 97 milhões, cerca de R$ 73 milhões (R$ 38 milhões em emendas e R$ 35 milhões da Fecoep) não teriam beneficiado famílias em situação de vulnerabilidade. O IBGE estima que 465 mil tocantinenses vivem abaixo da linha da pobreza.
CRIMES E NÚCLEOS DO ESQUEMA
De acordo com decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), os investigados podem responder por frustração do caráter competitivo de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de capitais e formação de organização criminosa. A estrutura do suposto esquema teria quatro núcleos: agentes políticos, servidores públicos, empresários e operadores financeiros.


Empresários foram ver Bolsonaro em Estreito (MA) - Crédito: Reprodução/Sentença TJTO


