A tesoura passou pesado na Educação, mas o estrago político foi bem além das salas de aula. A decisão do governo interino de Laurez Moreira de extinguir mais de 1.100 contratos temporários e 14 cargos comissionados da Secretaria da Educação dominou os bastidores da Assembleia Legislativa (Aleto) nesta quarta-feira (5) — e não apenas pelo impacto administrativo.
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VÍDEO VAZADO GERA REAÇÃO EM CADEIA
O motivo da turbulência foi o secretário da Administração, Marcos Duarte, que virou o centro das atenções após o vazamento de uma conversa e uma figurinha de WhatsApp em que aparece segurando uma foice e ironizando os cortes de pessoal.
A “brincadeira” caiu como bomba no Palácio Araguaia, irritou aliados de Laurez e forneceu munição política à militância do governador afastado Wanderlei Barbosa, que tenta se rearticular nos bastidores.
“Parece que o governo perdeu o senso do momento. Fazer graça enquanto mais de mil pessoas perdem o emprego é, no mínimo, falta de noção”, criticou um parlamentar em reserva. Outro resumiu: “Virou combustível para Wanderlei.”
CLIMA TENSO NA ASSEMBLEIA
Na Aleto, o vazamento se espalhou rapidamente entre os deputados. Muitos comentaram não a piada, mas a imprudência política do secretário em um momento de tensão.
O episódio ocorre em meio à incerteza sobre o processo de impeachment de Wanderlei Barbosa, ainda travado na Casa. O presidente Amélio Cayres (Republicanos) evita pautar o tema enquanto o placar estiver indefinido, mas, se 16 votos a favor da abertura forem confirmados, a votação deve avançar.
Enquanto isso, Laurez tenta consolidar apoio político para governar e conter danos. As exonerações em massa, lidas por alguns parlamentares como uma medida administrativa, foram vistas por outros como teste de fidelidade da base e sinal de disputa por espaço político.
PALÁCIO EM ALERTA
Fontes do Palácio Araguaia confirmam que a repercussão do “meme da foice” causou mal-estar interno e colocou a comunicação do governo em modo de contenção.
A Secretaria da Educação (Seduc) divulgou nota explicando que os servidores desligados eram excedentes não modulados e que a economia mensal com os cortes será de R$ 2,7 milhões.
Mesmo assim, o gesto não bastou para conter a crise. A oposição e aliados de Wanderlei Barbosa exploraram o episódio para reforçar o discurso de que a gestão interina falta sensibilidade social e age com “arrogância administrativa”.
ENTRE AJUSTE E SOBREVIVÊNCIA POLÍTICA
Nos bastidores, o governo argumenta que o enxugamento busca reorganizar as contas públicas e otimizar recursos. Mas a leitura política é de que Laurez tenta equilibrar o discurso técnico de gestor responsável com a necessidade de consolidar maioria na Aleto.
Com o humor fora de hora, no entanto, a “foice” de Marcos Duarte acabou cortando também o capital político que o governo interino tentava preservar.


Marcos Duarte é secretário de Administração da gestão interina de Laurez Moreira - Crédito: Bruno Maia


