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ENTREVISTA

Rérisson: "Alegação de Caixa 2 é absurda! Não tive recursos nem para Caixa 1"

26 agosto 2019 - 09h57Por Jornal Opção

O deputado estadual delegado Rérisson Macedo (DC) concedeu neste domingo (25), entrevista ao Jornal Opção de Goiânia (GO), onde falou sobre sua trajeória política e comentou sobre assuntos polêmicos como um questionamento em tramitação na justiça eleitoral acerca da sua prestação de contas da campanha de 2018.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

O delegado Rérisson Macedo é um tipo diferente na polícia. Humano, tranquilo, apaziguador, em que pese nunca ter deixado de cumprir seus deveres e obrigações funcionais. Cearense, radicado no Estado do Tocantins desde 1992, formou-se em direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) e pós-graduou-se em Segurança Pública. Foi servidor público do Tribunal de Justiça do Tocantins, defensor público e oficial de registro de imóveis. Pertence ao quadro da Polícia Civil desde 2001 e, atualmente, é titular da Delegacia de Homicídios de Araguaína. Já foi delegado fazendário e um dos fundadores da DEIC no Tocantins.

Na política, já exerceu o cargo de vice-prefeito da cidade de Riachinho por dois mandatos, entre 1997-2000 e de 2001-2004, assumindo definitivamente o cargo de gestor nos nove últimos meses do segundo mandato. Nas eleições de 2018, disputou o cargo de deputado estadual pelo DC e obteve 6.642 votos, sendo eleito primeiro suplente. Em 04/07/2019, após o afastamento do titular, Ivory de Lira (PPL) – que assumiu o cargo de Secretário de Governo – José Rérisson Macedo Gomes se tornou o primeiro delegado de polícia a tomar posse como deputado estadual no Estado do Tocantins.

Como se deu sua introdução na política?

Quando cheguei ao Tocantins, fixei residência em Ananás. O município de Riachinho, distante apenas 11 quilômetros, havia sido desmembrado de Ananás. Era necessário estruturá-lo. Fui convidado pelo primeiro prefeito, o Cearense, a ser o Secretário de Administração e Finanças de Riachinho. Na sua sucessão, instigado pela população, aceitei o convite para compor a chapa como vice-prefeito e obtivemos êxito. Na eleição subsequente, fomos reeleitos. Evidentemente, nem tudo foi um mar de rosas, pois a política, assim como tudo na vida, tem o lado bom e o lado negativo. Tenho primazia, entretanto, em fortalecer o lado bom, porque as pessoas mais simples confiam no poder público para terem dias melhores.

Após esse período, em razão das minhas atividades de delegado de polícia, fui transferido para a cidade de Araguaína. Por tal razão, me afastei temporariamente do processo político. Em 2018, numa reunião religiosa, o padre fez uma convocação para que as pessoas de bem colocassem seus nomes para a disputa eleitoral, alegando que as mudanças nunca ocorreriam se continuássemos elegendo as mesmas pessoas. Senti-me tocado, como cidadão. Eu sentia que não poderia me acovardar. Às vésperas do vencimento dos prazos para registros das candidaturas, registrei a minha e mesmo sem recursos financeiros e grandes estruturas, fizemos uma campanha digna. Surpreendentemente, obtive 6.642 votos, dos quais 5.479 apenas em Araguaína. Sou um legítimo representante da cidade, portanto.

A votação foi impressionante, considerando que a cidade de Araguaína conseguiu eleger cinco deputados estaduais…
Sim, surpreendente, mas creio que isso é fruto de um árduo trabalho, com seriedade, voltado pela primazia do interesse público. Sou um servidor público pago com o dinheiro da população, portanto, o mínimo que posso fazer é respeitar as pessoas. Quem vai numa delegacia? Na ampla maioria das vezes, pobres. Os mais abastados mandam seus advogados. Sempre atendi todos com zelo e cordialidade, contudo, sempre fiz questão de ouvir e tentar resolver as demandas o mais rápido possível, evitando-se a procrastinação no atendimento. Então, é uma via de mão dupla: cumprindo fielmente sua missão e suas tarefas, o reconhecimento vem.

Há um questionamento em tramitação na justiça eleitoral acerca da sua prestação de contas. O que realmente aconteceu? Poderia nos esclarecer?

A alegação de Caixa 2 é absurda, porque eu não tive recursos nem para o Caixa 1 (risos). Fiz uma campanha modesta, enxuta, com apenas R$ 86.825,35, quando o limite de gastos estabelecido pelo TRE/TO, era R$ 1 milhão de reais. Não recebi recursos do partido, apenas doações de colegas, amigos e parentes. O que verdadeiramente aconteceu foi que um desses doadores – meu filho – não tinha uma conta corrente, apenas uma conta-salário. Essa conta permite apenas saques.

Ele fez o saque e fez um depósito identificado, mas como ultrapassou o limite, fez outro depósito, do restante do valor, na boca do caixa. O sistema de depósitos da instituição financeira não permite a transferência ou identificação do doador para depósitos em conta de candidatos, feitos na boca do caixa. O funcionário do banco, em razão disso, saca da conta do doador e imediatamente deposita na conta indicada. Os extratos bancários provam isso. É lógico que não havia nenhum sentido em meu filho querer me prejudicar. Ele fez a doação de boa vontade, contudo, a justiça eleitoral considerou a doação como não identificada. Logicamente, vou interpor o recurso judicial cabível, mesmo porque minha campanha e minha vida sempre foram pautadas na honestidade. Não houve, em nenhuma hipótese, qualquer tipo de fraude e nem tampouco doações espúrias.

E quanto ao seu elo e filiação ao partido Democrata Cristão (DC)?

Com toda certeza, se deu em razão da minha linha cristã, como católico praticamente, desde minha infância. Os partidos são feitos por pessoas e logicamente, há pontos positivos e negativos. Temos que observar, filtrar e prezar sempre pela lisura. Eu não recebi recursos de fundo partidário para minha campanha, mesmo assim, levei a missão adiante, independente disso. No que se refere a ideologia, a que está prevista no estatuto do DC é a que eu acredito, por isso, a filiação. Entretanto, se houver a necessidade de uma migração para outra sigla – em razão da cláusula de barreira – o farei para outro partido com as mesmas características e ideologias.

Falando em cláusula de barreira e legislação eleitoral, qual sua percepção acerca da minirreforma que altera as regras das coligações para as eleições de 2020 e as subsequentes?

Creio que não altera muito a situação. Se a legislação foi modificada pensando em beneficiar os grandes partidos, excluindo os pequenos, foi um “tiro pela culatra”. Eles agora vão ter que digladiar entre si para ocupar os espaços. O poderio econômico visto nas campanhas eleitorais vai servir para criar uma verdadeira guerra dentro das próprias siglas. Hoje, os grandes partidos detêm seis ou sete vagas, mas diante da nova regra, conseguirão preencher apenas três ou quatro. A ideia da lei é que o eleitorado valorize mais as pessoas (candidatos) em si, ao invés da força do partido.

No que se refere ao apoio classista à sua candidatura, o sindicato dos policiais civis fiz até mesmo uma assembleia extraordinária para manifestar o engajamento dos colegas de profissão. Qual a importância dessa coesão?

Ser unanimidade entre os meus companheiros de trabalho é uma grata satisfação, mas aumenta muito a minha responsabilidade. Há um respeito mútuo entre nós, uma boa relação, construída ao longo de muitos anos, no desempenho de nossas funções na polícia.

Estarei pronto para representar a classe no parlamento estadual, sempre prezando pelo diálogo, pelo bom entendimento, visando sempre o equilíbrio e a construção de pautas positivas, não apenas para os delegados, como também para os servidores públicos em geral.

Sua relação com o governo do Estado do Tocantins, visando abrir esse diálogo, é boa?

É institucional, mas muito boa. Cheguei aqui com espírito público, imbuído do melhor propósito. Creio que o Chefe do Poder Executivo tem o mesmo pensamento. Logo, creio que haverá mais convergências do que divergências. Todas as propostas ou pautas que beneficiarem a população, terão meu total apoio, todavia, posso garantir, desde já, que aquelas que forem contrárias aos meus princípios, terão meu voto contrário.

Continuo “sendo” delegado de polícia, apenas “estou” deputado. Não estou aqui para ser situação ou oposição, e sim para votar em conformidade com minhas convicções. O tempo que eu passar nesta Casa de Leis, será tentando produzir pautas positivas, de forma a atender não apenas os meus eleitores, mas toda a população do Tocantins. Eu tenho uma “procuração” outorgada pelo povo deste Estado – baseada no meu perfil – e eu não posso frustrá-los.

E qual é o carro-chefe do seu mandato?

Basicamente a segurança pública e a saúde. Essas são as minhas duas grandes preocupações. A saúde, não apenas no Tocantins, como em todo Brasil, deve ser prioridade absoluta. A população sofre demais em filas e corredores de hospitais e isso me entristece. Como agentes públicos, devemos lutar para evitar ao máximo que isso ocorra, quer seja destinando recursos públicos, quer seja lutando pela implantação de políticas públicas que tragam bem-estar para os pacientes. Vou lutar para a volta dos mutirões cirúrgicos, uma forma de desafogar os hospitais públicos. É necessário ainda aprimorar, ainda mais, os serviços de oncologia em Araguaína, com a aquisição de outros equipamentos. A cidade, que já foi referência no tratamento desse mal, precisa reassumir seu protagonismo nessa área.

Quanto à segurança pública, a luta é para haja ações no sentido de aumentar o efetivo das polícias, civil e militar. É mister que elas também atuem da forma mais integrada possível, porque eu sempre digo que “tem bandido para todo mundo” (risos). A troca de informações dos serviços de inteligência de ambas deve ser, também, aprimorado. Quando isso ocorre, a investigação flui de forma mais célere e consegue atingir os objetivos.

O sr. é favorável à implantação de guardas metropolitanas nas cidades com maior contingente populacional?

Creio que pode contribuir sim, na medida em que assumem a guarda patrimonial, a organização do trânsito, entre outras atividades. Há um somatório de esforços, um trabalho harmônico e quando isso ocorre, é uma preocupação a menos para a polícia militar. Isso é válido, sem sombra de dúvidas.

O atual presidente da república também preza muito o fortalecimento da segurança pública. Qual a sua visão sobre o pacote anticrime, porte de armas, entre outros temas?

Vejo com preocupação a liberação do uso de armas de forma indiscriminada. Uma pessoa que não sabe usar armas, e não foi sistematicamente treinada para isso, pode vitimizar alguém e até a si próprio. Se for para disponibilizar o acesso às armas, é necessário que haja mais rigor na preparação para o uso delas. Não é um curso de dois ou três dias, mas sim, ensinamentos teóricos e práticos que realmente possam dar segurança para o usuário. Portanto, sou favorável ao estabelecimento de critérios mais rígidos para aquisição, posse e porte de arma de fogo.

Quanto ao pacote anticrime, sou favorável, porque considero que o aumento das penalidades é uma forma de inibir crimes. Além disso, é preciso rever a questão das penas impostas aos menores infratores. São brandas demais. O garoto de 15 ou 16 anos de hoje não é aquele mesmo adolescente de 15 ou 20 anos atrás. Os tempos são outros. O crime organizado, atualmente, faz uma verdadeira triagem para introduzir garotos dessa idade no mundo do crime, visando, exatamente, a impunidade. O contraponto consiste na implantação de políticas públicas para esses jovens, mantendo-os nas escolas ou nos cursos profissionalizantes, como também promovendo a geração de emprego e renda para suas famílias. É uma questão social muito ampla, que não podemos nos furtar de debater.