O anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que pretende taxar em 50% todas as importações de produtos brasileiros a partir de 1º de agosto provocou um efeito dominó de reações no Brasil. O comunicado oficial, divulgado pela Casa Branca, pegou associações setoriais, diplomatas e parlamentares de surpresa.
Os Estados Unidos são atualmente o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em 2023, as exportações brasileiras para o país ultrapassaram US$ 40 bilhões, com destaque para produtos siderúrgicos, aeronaves, combustíveis, café e carne bovina fresca.
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ENTIDADES SETORIAIS SOAM ALARME
Logo após o anúncio, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou nota alertando que a medida pode ter impactos “graves” na produção, nos investimentos e no emprego. A entidade defendeu que o governo brasileiro priorize a negociação imediata com Washington.
A Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) também expressou preocupação com “efeitos severos sobre cadeias produtivas integradas entre os dois países”. O setor de calçados classificou o comunicado como um “balde de água fria” que pode comprometer a recuperação das exportações.
Já a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) afirmou que a tarifa torna inviável a operação de exportação de embalagens e fertilizantes. Para o agronegócio, representado pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a taxação foi vista como um “tratamento de inimigo”.
IMPACTO ESTIMADO
Estimativas do Goldman Sachs apontam que a medida deve elevar em 35 pontos percentuais a taxação média sobre exportações brasileiras, com impacto negativo no PIB de até 0,4 ponto percentual.
Especialistas avaliam que o anúncio tem forte componente político e que a estratégia americana pode ter origem nas divergências diplomáticas recentes entre os dois governos.
Para José Augusto de Castro, presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a sobretaxa representa uma ruptura inédita: “Estamos passando de parceiros comerciais a potenciais adversários. A imagem do Brasil como fornecedor confiável está seriamente comprometida.”
DIPLOMACIA SOB PRESSÃO
O ex-secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, defendeu que o Brasil busque, sem alarde, mercados alternativos, mas ponderou que “a retórica antiamericana só agrava o problema”.
O embaixador Luiz Augusto Castro Neves alertou que a medida também pode prejudicar empresas americanas e que a única saída viável é retomar imediatamente o diálogo.
DEPUTADO COBRA LUCIDEZ E DIÁLOGO
Entre os parlamentares, o deputado federal Alexandre Guimarães (MDB-TO) se manifestou com tom de apelo por responsabilidade e equilíbrio diante da crise:
“Todos nós fomos surpreendidos com a decisão do presidente dos Estados Unidos de taxar os produtos brasileiros na faixa de 50%. Isso interrompe uma relação comercial e bilateral histórica e prejudica ambos os países”, afirmou.
O deputado destacou que não é hora de apontar culpados, mas sim de reatar as pontes diplomáticas:
“O que precisamos agora é, com parcimônia e lucidez, restabelecer a diplomacia por ora perdida. Precisamos reestabelecer o diálogo, pois quem mais sofre são as pessoas comuns, tanto brasileiras quanto americanas. Rogo que os dois presidentes vistam-se do cargo de chefes de Estado que ocupam e restabeleçam a ordem e a lucidez por ora perdidas.”
Até o momento, o governo federal não apresentou contramedidas oficiais, mas fontes do Itamaraty indicam que negociações de bastidores já começaram.