Nos bastidores, fontes indicam que o Brasil pressionou por isenções adicionais em setores como carne e café - Crédito: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, realizaram um encontro bilateral inédito em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). A reunião foi resultado de semanas de intensas articulações diplomáticas e ocorreu em meio a um cenário de tensões comerciais e políticas.

PONTOS ECONÔMICOS NA MESA

O principal foco da conversa foi a revisão de tarifas sobre produtos brasileiros. A pauta incluiu a redução de tributos sobre a celulose, já zerados em negociações anteriores, e sobre a madeira serrada, que passou de 50% para 10%. Também entraram na agenda temas como a crise na Venezuela e a crescente influência chinesa na América do Sul.

Participaram da reunião, pelo lado americano, o Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, e o Secretário de Estado, Marco Rubio. Representando o Brasil, estiveram o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

TOM DIPLOMÁTICO E OTIMISMO

Após o encontro, Lula afirmou estar confiante na construção de uma relação “civilizada e produtiva” com os Estados Unidos. Segundo ele, há uma “tendência natural de convergência quando líderes dialogam com franqueza”. Durante a coletiva, o presidente confirmou ter entregue um documento em inglês a Trump com propostas de cooperação bilateral.

NEGOCIAÇÕES CONTINUAM

Nos bastidores, fontes diplomáticas indicaram que o Brasil busca novas isenções em setores como carne e café, afetados pela inflação norte-americana. A presença de Haddad reforçou o foco econômico da reunião, enquanto Vieira tratou de questões diplomáticas, como as sanções ao Supremo Tribunal Federal, ainda em vigor.

O governo americano, por sua vez, sinalizou interesse em fortalecer parcerias no campo dos minerais críticos e da energia renovável, mas com exigências comerciais em contrapartida.

IMPACTO ECONÔMICO

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), as tarifas impostas pelos EUA geraram uma perda estimada de R$ 30 bilhões nas exportações brasileiras. O encontro, mesmo sem resultados imediatos, foi considerado um “passo positivo” pelos dois lados.

A próxima rodada de negociações deve ocorrer em novembro, possivelmente de forma virtual, com foco em temas como etanol e regulação tecnológica.

GESTOS SIMBÓLICOS E DESAFIOS

A cerimônia foi marcada por gestos protocolares: Lula recebeu um título honorário da Universidade Nacional da Malásia, enquanto Trump participou de um jantar cerimonial da Asean. Apesar do clima amistoso, analistas avaliam que o presidente americano adota postura cautelosa, priorizando conversas paralelas com a China.

DIPLOMACIA ATIVA

Para o governo brasileiro, o encontro representa a retomada de uma diplomacia ativa. Com Vieira e Haddad à frente das negociações, o Brasil busca reduzir impactos econômicos e ampliar o diálogo com uma das maiores potências globais.