"Minha irmã estava morrendo e o médico debochou do nosso desespero achando que ela estava exagerando e querendo furar fila no hospital", assim começou o relato doloroso do irmão de uma paciente de 50 anos que morreu esta semana no Hospital Regional de Araguaína (HRA). A família procurou o Portal O Norte para denunciar o caso como negligência e omissão de socorro médica apontando uma série de falhas no atendimento.
SAÚDE FRÁGIL
Casada e mãe de três filhos, Ana Rita Cardoso Sousa passou mal em casa na madrugada de sexta (18) para sábado (19), sentindo muita falta de ar e precisou ser levada pelo Samu para o Regional. Raimundo Carodoso contou que a irmã tinha a saúde fragilizada desde quando realizou um procedimento cirúrgico de traqueostomia em 2012 e desde então enfrentava problemas de insuficiência respiratória.
A família lutava para que ela conseguisse pelo SUS um procedimento que não é feito no Tocantins. A Transferência Fora de Domicílio (TFD) seria para a realização de uma cirurgia definitiva para colocação de um "Tubo T" para evitar que sua garganta se fechasse.
A INTERNAÇÃO
Em entrevista ao Portal O norte, Raimundo Cardoso relatou os últimos dias de angústia e sofrimento que a dona de casa Ana Rita Luz Cardoso passou depois que deu entrada no HRA. "Nós insistimos muito para que ela fosse transferida para um local adequado, uma UTI, sala vermelha mas eles simplesmente ignoraram nosso pedido!"
FAMÍLIA RECUSA ALTA
De acordo com o irmão, o médico plantonista Pedro Paulo chegou inclusive a dar alta no sábado (19), para a paciente afirmando que ela estava bem e que não precisava continuar internada: "Mas eu recusei, porque conheço a minha irmã e tinha certeza que ela não estava bem. O médico foi estúpido e debochado ao assinar a suspensão da alta. Escreveu em caixa alta e disse que minha irmã até podia ficar no hospital mas seria por nossa conta", lembra Raimundo.
Depois de ter a alta suspensa, Raimundo Cardoso disse que a presença da irmã foi praticamente ignorada na unidade. "Ela foi deixada sentada em uma cadeira de macarrão, morrendo à míngua. Teve que levar sua própria nebulização para o hospital e quem praticamente cuidou daí em diante fomos nós".
PIORA E MORTE
Na terça-feira (22), ela piorou muito e ficou mais difícil ainda respirar. "Insisti para chamarem um especialista porque a garganta dela tava fechando. Disseram que era feriado e não iriam incomodar um especialista, que minha irmã não tava tão mal assim pra precisar chamar".
Por volta das 15h da tarde a situação ficou insustentável, Raimundo afirma que Ana Rita sofreu uma parada respiratória e só assim foi socorrida às pressas. "Fizeram massagem cardíaca nela, machucaram demais que chegou a sair sangue pelo nariz. Uma judiação absurda. Mas ela não precisava de massagem, ela precisava de ventilação, de ar e eu insisti tanto expliquei tanto que era isso, que ela precisava ser entubada para não morrer sem fôlego. Só quando eles viram que ela tava morrendo que realmente tentaram entubá-la às pressas mas já era tarde demais", disse inconsolável o irmão.
DIAGNÓSTICO DA MORTE
Segundo a denúncia, a família enfrentou ainda dificuldades para ter acesso ao prontuário médico de Ana Rita. "O médico não queria que eu tivesse acesso aos documentos da internação dela até o diagnóstico da morte. Só consegui com muita insistência. Lá eles disseram que a causa da morte foi insuficiência respiratória. CLARO que foi! Ela chegou assim mas eles não deram importância e não atenderam ela como precisava. Disseram no documento que ela teve todos os cuidados necessários TUDO MENTIRA! Não deram a assistência devida, minha irmã poderia estar viva agora, mas por pura negligência e omissão ela não está mais", lamentou.
VELÓRIO E SEPULTAMENTO
Ana Rita foi velada e sepultada por familiares na última quarta-feira (23), no cemitério São Lázaro. "Agora só nos resta a dor e saudade dela mas queremos que a justiça seja feita! Hoje foi nossa família e amanhã pode ser a família de qualquer pessoa que depende de atendimento nesse Regional. Uma falta de empatia e amor ao próximo que não dá nem pra explicar", pontuou.
ESCLARECIMENTOS
O Portal O Norte procurou a Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins (SES) para informações e esclarecimentos sobre o atendimento de Ana Rita. Em uma nota resumida, a pasta disse que a paciente foi atendida mas por comorbidades evoluiu a óbito. A nota encerra lamentando o falecimento da paciente. Confira abaixo a nota na íntegra:
A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) informa que a referida paciente foi acolhida no Hospital Regional de Araguaína (HRA) e recebeu os cuidados da equipe multiprofissional a qual estava com escala completa, mas lamentavelmente devido as comorbidades, foi a óbito.
A SES-TO lamenta profundamente o óbito da paciente e se solidarisa com familiares e amigos neste momento de dor irreparável e destaca que mediante a denúncia da família abrirá processo administrativo para verificar a conduta dispensada à paciente e o caso será encaminhado à Comissão de Verificação de Óbito, para as apurações e medidas legais cabíveis.
Palmas, 26 de abril de 2025
Secretaria de Estado da Saúde