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DENÚNCIA GRAVE

Servidora do HRA denuncia assédio sexual e alega conivência da diretoria do Hospital

24 outubro 2023 - 14h46Por Da Redação

"Tudo começou com brincadeiras de mau gosto...mas as brincadeiras passaram a ser mais constantes e chegou a um ponto que começou a fugir do controle... ficou insustentável". Esse é um trecho do depoimento de uma servidora do Hospital Regional de Araguaína (HRA), que em entrevista exclusiva ao Portal O Norte denunciou um colega de trabalho por assédio sexual. A vítima conta que o caso chegou ao conhecimento da Diretoria Geral do hospital, Recursos Humanos e ouvidoria da Secretaria de Estado da Saúde (SES), mas a situação não foi resolvida e os assédios continuaram acontecendo. Diante da situação, a jovem resolveu expor o caso e registrou um Boletim de Ocorrência.

Em vídeo gravado com nossa equipe, a mulher que preferiu não se identificar, narrou com riqueza de detalhes situações contrangedoras que enfrentou em seu local de trabalho. 

Quando tudo começou

Segundo ela, tudo começou no início de setembro com perguntas de foro íntimo, daí em diante ela passou a enfrentar investidas do denunciado, que mesmo com sua recusa continuou assediando-a. 

A jovem trabalha na recepção da Diretoria Geral da unidade e conta que o denunciado identificado como, Luíz Otávio Costa Bringel, trabalha há cerca de 3 meses na mesma ala que ela, como assessor da diretora administrativa, Rosimary Almeida de Souza.

De acordo com relatos narrados pela servidora, em um dos episódios, Luiz Otávio já impediu ela de sair da sala e tentou agarrá-la à força: "Nesse dia, ele segurou o trinco da porta e me impediu de passar, depois segurou meus pulsos e tentou me agarrar, perguntou se eu tava com medo, se eu era menor de idade e só me deixou sair porque ouviu alguém chegando", contou.

Conversa com o Diretor Geral 

Em um outro episódio, o assessor teria sido ainda mais invasivo e segundo ela, chegou a tentar tocar em suas partes íntimas, foi quando ela decidiu levar o caso ao Diretor Geral do hospital.

Apesar de ela ser diretamente subordinada à diretora administrativa Rosimary, ela conta que não se sentiu confortável em falar primeiro com ela sobre a situação, já que sua superiora é prima da esposa do denunciado e mora na residência deles. 

A conversa com o diretor Claudivan de Abreu, segundo ela, aconteceu no dia 27 de setembro. "Ele me pediu calma e disse que iria conversar com a Rosimary para que as providências fossem tomadas". Mas a servidora acredita que o diretor não levou seu caso a sério: "Tanto que eu acredito que ela só ficou a par dos episódios de assédio somente no dia 9, quando o Dr. Claudivan me ligou já à noite informando que havia conversado com ela e teria dado o prazo até as 18h desse dia para que Rosimary resolvesse o problema".

Novo episódio de assédio

Vale destacar que o tempo entre a primeira conversa e com o Diretor Geral e a comunicação de que a diretora administrativa teria tomado conhecimento de tudo, se passaram 12 dias e nesse meio tempo, a servidora conta que foi novamente assediada pelo assessor...

"Eles viajaram e me deixaram sozinha com ele na direção. Ele continuou trabalhando junto comigo mesmo diante de tudo o que eu havia repassado ao diretor", observa a denunciante que lembra que no último dia 2 de outubro, Luiz Otávio, se aproveitando da situação em que os dois estavam sozinhos teria feito mais uma investida contra ela: "O diretor viajou já sabendo de tudo. Nesse dia por volta das 15h eu entrei na sala do diretor pra ir ao banheiro, tranquei e percebi que ele tentou abrir a porta várias vezes. Eu fiquei aterrorizada, me tranquei no banheiro e fiquei lá por meia hora. Só consegui sair depois que ouvi ele sair da sala, porque dá pra ouvir".

Nesse momento, a jovem conta que não conseguiu ficar mais no local: "Eu tremia de medo, comecei a ter crise de pânico e por isso cumpri meu horário andando pelo pátio, na portaria pra não ter que voltar para a diretoria porque sabia que ele estava lá", explica.

Comunicado Oficial 

"A essa altura eu já tava desesperada tendo crises de pânico o tempo inteiro", conta a servidora explicando que diante da situação decidiu informar o caso à coordenação de Recursos Humanos, onde foi orientada a cumprir temporariamente sua carga horária no setor. No dia 4 de outubro, ela lembra que cumpriu sua carga horária até as 16h30 mas teve outra crise de pânico e foi embora mais cedo. 

No dia 9, a servidora disse que resolveu fazer um comunicado oficial à diretoria com todos os relatos sobre o assédio sofrido. "A diretoria não me dava nenhum posicionamento da situação, se tinham tomado alguma providência, por isso decidi fazer o comunicado", explica. 

"Fui trabalhar no dia seguinte ao comunicado, mas dessa vez não consegui entrar. Comecei a sentir pânico ainda no estacionamento. Liguei para o RH e expliquei a situação. A secretária do diretor foi informada e com o intuito de me ajudar, agendou um horário com o psicólogo que atende os servidores do hospital", lembra. 

Consulta Psicológica e B.O

A servidora narra que durante a consulta, o profissional a ouviu e diante dos seus relatos e percebendo seu comportamento bastante abalado, decidiu assinar uma licença de 15 dias para que ela pudesse se acalmar: "Ele também me receitou um medicamento ansiolítico porque eu não estava conseguindo nem dormir direito depois de tudo isso".

Ao final da consulta, a jovem afirma que saiu decidida a registrar um Boletim de Ocorrência contra o colega de trabalho e fez isso no dia seguinte: "Fui até a delegacia, só não fiz no mesmo dia porque a Delegacia da Mulher já estava fechada", afirma.

Conversa com a Diretora Administrativa

Neste mesmo dia, a servidora já em casa recebeu a ligação da diretora administrativa: "O que eu percebi na longa conversa que tivemos era que ela parecia o tempo inteiro duvidar do que eu estava falando. Fiquei muito decepcionada com isso, mais pelo fato de ela ser mulher e não se colocar no meu lugar. Mas o momento mais decepcionante foi quando ela sugeriu que eu abrisse mão da licença e voltasse a trabalhar normalmente", revela. 

De acordo com a vítima, Rosimary teria questionado se ela tinha certeza que continuaria a dar andamento à denúncia destacando que até abriria a sindicância, mas que ela não tinha provas consistentes. Apenas seus relatos, e o atestado do psicólogo, documentos estes que ela deveria anexar ao processo. 

"Eu não tenho provas e expliquei isso pra ela. Não conversava com ele por mensagens, não tenho fotos nem vídeos, mesmo porque a sala onde acontecia os assédios não tem nenhum monitoramento, nem mesmo no corredor. Tudo acontecia muito rápido, ele sempre se aproveitava quando eu estava sozinha. Como é que eu posso ter provas?", indagou. 

"Eu não tô nada bem!"

Perguntamos na entrevista como a vítima estava se sentindo e ela respondeu: "Eu não tô nada bem! Eu ainda não me sinto preparada para voltar, ainda mais porque as pessoas com que eu mais contava, os meus superiores, não me apoiaram no momento em que eu mais precisei. Só de pensar que quando eu voltar a trabalhar vou encontrar ele de novo isso me assusta, me causa pânico", disse ela ainda visivelmente abalada afirmando que sua licença termina nessa terça-feira (24) e ela já deve voltar a trabalhar na quarta-feira (25).

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Finalizando a entrevista perguntamos à servidora o que ela esperava que fosse feito e ela com a voz embargada afirmou: "Justiça! Que ele não trabalhe mais lá, que ele pague por tudo que ele fez comigo, até porque eu acredito que o que ele fez comigo, ele pode fazer com outras mulheres", finalizou.

O Portal O Norte procurou a SES para esclarecimentos sobre o caso. Confira a nota na íntegra no final da matéria.

Nossa reportagem também tentou contato com o denunciado mas não foi possível localizá-lo. O espaço permanece aberto para os devidos esclarecimentos caso a parte denunciada queira se manifestar. 

NOTA DA SES


A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) informa que tomou conhecimento do suposto episódio de perseguição e assédio no Hospital Regional de Araguaína (HRA) no dia 16 de outubro de 2023, por meio da Ouvidoria do SUS, quando imediatamente  tomou as medidas legais cabíveis.

A Secretaria destaca que o servidor mencionado foi removido do setor em que trabalhava e a servidora em comento foi acolhida pela equipe multiprofissional do hospital e está de licença médica, para tratamento do abalo emocional sofrido e o caso encaminhado para a Corregedoria da Saúde.

A Pasta pontua que não coaduna com nenhum ato que manifesta qualquer tipo de assédio, em nenhuma das suas formas, caso haja evidências da confirmação do caso, tomará todas as providências jurídicas e administrativas necessárias.

Por fim, frisa-se que a SES-TO trabalha ações constantes para a construção de um ambiente de trabalho digno e respeitoso para todos.
 
Palmas/TO, 24 de outubro de 2023
Secretaria de Estado da Saúde