Ricardo Sottero
Da Redação
“Eu queria me aposentar. Eu não vou viver “vagabunda” só porque eu me aposentei. Pelo menos eu maneiro um pouco, descanso um pouco mais”.
Esse é o desejo de dona Iraci de Jesus, 59 anos, 12 dos quais dedicados à recolha de material reciclável, em Araguaína. A atividade de dona Iraci incomodou seus vizinhos da Rua dos Buritis, no setor Araguaína Sul. Alguns moradores denunciaram o excesso de material acumulado dentro e fora da casa da catadora há pelo menos dois anos. O mau cheiro, a presença de animais e o risco de doenças são as principais reclamações.
Notificação
A Vigilância Sanitária do município foi acionada e garantiu que dona Iraci seria notificada ainda esta semana. Além da provável multa, que pode variar entre 300 e 7000 mil reais, o órgão deu um prazo de três dias para que todo o material seja retirado do local.
Preocupada
A equipe de reportagem do Portal O Norte entrou em contato com a catadora, mais uma vez, para saber como ela faria para se desfazer dos produtos recolhidos. Dona Iraci disse que ainda está aguardando um dos caminhões da cooperativa ir buscar o material e levar para a central de triagem no Setor Céu Azul. Ela solicitou dois veículos, mas um acabou quebrando e o outro está demorando demais para fazer o serviço. Ela torce para que o caminhão apareça dentro dos próximos três dias. Questionada sobre o que ela fará caso não busquem o lixo, a resposta foi simples: “Eu vou apelar pra eles, para que tenham compaixão”. Outra saída seria que a prefeitura disponibilizasse um caminhão para recolher o material e levar para a cooperativa.
O carro da cooperativa que faz a coleta do material quebrou em frente a casa de
dona Iraci.
Durante toda a entrevista ao Portal O Norte, a catadora foi solícita e educada, e expressou profunda preocupação com a atual situação. A vontade dela é fazer tudo de maneira organizada, mas boa parte do processo não depende somente dela. A idosa revelou que, mesmo às duas horas da tarde, ainda não tinha almoçado preocupada em agasalhar o lixo que precisava ser recolhido.
Rotina de trabalho
Dona Iraci trabalha principalmente em eventos e festas pela cidade, onde o consumo de refrigerantes e outras bebidas acaba gerando quilos e mais quilos de latinhas e embalagens. “Eu saio de casa por volta das oito, nove horas da noite e só volto às oito do outro dia”. E quando a noite é movimentada, a catadora consegue faturar até 150 reais em quatro dias de serviço. Mas mesmo com essa média, Dona Iraci não sabe dizer qual é a sua renda mensal. O fato é que, com este serviço, ela consegue sustentar três filhos e uma neta de três anos.
Inclusive, o desejo da aposentadoria é também para arranjar mais tempo para cuidar da neta. “A mãe é nova, não tem juízo suficiente, não tem estrutura suficiente para cuidar da filha. Então quem acaba cuidando mesmo é a avó”, completa.
Desrespeito
Se não bastassem todos os problemas com a Vigilância Sanitária, Dona Iraci ainda sofre o preconceito e o desrespeito da população e vizinhos. Xingamentos como “vagabunda” e “velha suja” são constantes. Mas ela rebate: “Antes viver desse jeito do que roubar”.
Outras alternativas
A catadora também revela que já tentou buscar outros empregos, mas para trabalhar em casas de família, por exemplo, ela diz ser considerada muito velha, e também não encontra outras oportunidades por conta da idade. E para se aposentar, Dona Iraci também admite que está nova, mas mesmo assim faz um apelo para que o poder público ajude-a a conseguir a aposentadoria. “Eu preciso aposentar, eu não consigo mais trabalhar esse tanto”, finaliza.
Clique aqui e assista ao vídeo da entrevista de dona Iraci de Jesus ao Portal O Norte.