Palmas
25º
Araguaína
23º
Gurupi
23º
Porto Nacional
25º
"MILAGRE DE DEUS"

Lutando contra câncer agressivo, araguainense se emociona ao conseguir doadora 100% compatível

12 março 2021 - 12h05Por Dágila Sabóia

Hoje você vai conhecer a história de resiliência, superação e fé de uma jovem araguainense que enfrenta pela segunda vez um câncer, mas recebeu uma notícia emocionante e que vai mudar o rumo de sua vida na batalha contra a doença. (Veja o vídeo da descoberta no final da reportagem)

A descoberta

Filha de pai empresário e mãe professora, Rafaela Cerqueira Dantas tem 31 anos, vem de uma família de três filhos. Casada há 7 anos com o administrador, Fábio Ferreira da Cruz (35 anos), ela levava uma rotina normal até 2 anos e meio atrás, quando descobriu que sofria de uma grave doença.

Num dia eu estava festejando em um chá e no outro fiquei sabendo que estava muito doente”, lembra Rafa, como é carinhosamente chamada pela família e amigos.

Rafaela disse que dias antes, começou a sentir alguns sintomas, que para ela não pareciam nada anormal: “Começou a aparecer umas manchas nas minhas pernas e a princípio eu achava que tinha me machucado sem querer. Mas elas não sumiam, surgiram em outros lugares, só aumentavam e eu comecei a sentir fraqueza. Foi quando resolvi fazer um hemograma que deu um resultado bastante alterado, minhas plaquetas estavam muito baixas”, disse acrescentando: “Procurei uma hematologista, que pediu exames mais específicos para investigar a causa e no mesmo dia recebi o diagnóstico: Leucemia Mieloide Aguda (LMA)”

Foi um baque muito grande pra mim, pra todo mundo”, lembra Rafaela afirmando que foi um dos momentos mais difíceis da sua vida. O câncer que acometeu a jovem, segundo diagnóstico de especialistas, progride muito rápido e ela precisava iniciar um tratamento o mais urgente possível. Apesar da angústia, ela disse que recebeu importantes esclarecimentos sobre o assunto pela profissional que a atendeu: “A doutora disse que era um tipo fácil de tratar e que eu não precisaria de transplante, o que me deixou menos tensa”.   

O tratamento

Rafaela trabalhava em uma empresa privada e na época tinha plano de saúde e assim ela deu início ao tratamento na rede particular, mas precisou viajar para Goiânia para iniciar o tratamento. “Mesmo com toda força, fé e otimismo, não imaginava que seria tão difícil. Com imunidade baixa, passei por internações, sofri várias infecções e fiquei bem debilitada nesse período. Foi uma grande provação”.

Casamento

meu marido sem dúvida é um presente de Deus na minha vida”. Disse ao ser questionada sobre o relacionamento nessa fase delicada. “Ele deixou o emprego, abandonou tudo para cuidar de mim. Um homem de muita fé, companheiro, paciente, carinhoso, meu braço direito. Sem ele seria muito mais difícil”, concluiu. 

Rafaela e Fábio são casados há 7 anos. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Amigos

Outro apoio fundamental nesse período para Rafaela foram os familiares e amigos. “Deus também cuidou de nós através deles. Desde o início recebemos muitas mensagens de encorajamento, conforto e orações até de pessoas que nem conhecíamos. Isso nos sustentou, nos deu forças para seguir em frente”, disse Rafaela lembrando carinhosamente da iniciativa deles em promover campanhas de doações de sangue e rifas para ajudá-los com as despesas financeiras que eram muitas e incluíam uma grande quantidade de medicações. 

A empresária

O tratamento seguiu por meses com Rafaela se recuperando de forma gradativa. Mas ela tinha consciência de que não poderia voltar à rotina de trabalho de antes, se desligou da empresa em que atuava e tentava conseguir um benefício no INSS. 

Diante da série de despesas com o tratamento, viagens e com o marido desempregado, Rafaela se preocupava com a questão financeira: “Precisava de alguma atividade pra ocupar o tempo e ganhar dinheiro”. Foi então que ela decidiu tocar um sonho antigo que ela já projetava com a amiga, Eluana Cavalcante, de abrirem um negócio juntas: “Mas precisava ser algo que não me exigisse muito esforço, que eu pudesse trabalhar em casa. Pesquisamos, planejamos e assim em 2018 nasceu a Raylú calçados, que graças a Deus foi uma realização maravilhosa para nós duas”. 

Rafaela e a amiga Eluana abriram um loja virtual juntas. (Foto: Arquivo Raylú)

 

O segundo Baque

Rafaela finalizou o tratamento em abril do ano passado e seguia o protocolo de acompanhamento de 6 em 6 meses, quando entrou em remissão. As coisas estavam voltando finalmente ao normal na vida da empresária, tudo parecia ir muito bem, quando em janeiro deste ano ela começou a sentir uma fraqueza ainda mais intensa e novamente as manchas roxas apareceram, foi quando novo hemograma saiu com um resultado desanimador no dia 19 de janeiro: um subtipo da Leucemia que ela enfrentou foi detectado e dessa vez mais agressivo. “Receber o segundo diagnóstico foi mais difícil, mas apesar de tudo, mantive minha fé inabalável em Deus e a rede de apoio também tem me fortalecido imensamente nesse momento”, disse Rafaela, que dessa vez procurou um acompanhamento pisicológico nesse segundo caso.

Nova Saga

De volta em Goiânia (GO) e sem plano de saúde para cobrir as custas do tratamento, Rafaela iniciou uma série de exames e consultas na rede pública e conseguiu uma transferência para o Hospital das Clínicas, onde seguiu atendida pela mesma equipe médica do primeiro episódio. “Excelentes profissionais, atenciosos e me dão muita segurança”, garante.

Integrantes da equipe médica que está tratando Rafaela em Goiânia. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Os irmãos 

Internada, ela descobriu que teria que ser submetida a um transplante de medula e mais uma saga se iniciou: encontrar um doador compatível. 

O irmão e a irmã de Rafaela foram submetidos a exames para testar a compatibilidade. Pra alegria da família, o resultado de Marcos Vinícius Cerqueira (irmão mais velho) que saiu nessa segunda-feira (08), atestou 50% de compatibilidade, um fator bastante positivo segundo especialistas. 

 

Mas foi o resultado do teste feito na caçula Natália Cerqueira (23 anos), que no dia seguinte trouxe ainda mais alegria e esperança para a família: 100% compatível. “Um verdadeiro milagre, porque é algo muito raro de acontecer”.

Nathalia Cerqueira é a caçula da família e 100% compatível para doar a medula para sua irmã. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Nathália mora atualmente em Salvador (BA), onde recebeu o resultado e avisou para o marido de Rafaela. “Mas ela queria dar a notícia pra mim. Eu estava no hospital raspando a cabeça, quando recebi a chamada dela. Não tenho palavras pra dizer o quanto isso foi emocionante”. Depois disso, a empresária ligou para os pais e contou a melhor notícia do momento para a família. 

Irmã caçula queria raspar de novo a cabeça mas Rafaela não deixou. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Rafaela disse que na primeira vez, tanto Nathália quanto Marcos Vinícius rasparam o cabelo em solidariedade a ela: “Dessa vez a Nathalia queria fazer de novo, mas eu não deixei”, disse sorrindo afirmando que o irmão já está com o cabelo raspado como ela. “Sou muito grata pela família que tenho, é muito amor envolvido”.

Irmãos de Rafaela se solidarizaram à ela também rasparam a cabeça. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Na saúde e na doença

O marido de Rafaela mais uma vez deixou o emprego em que estava trabalhando e junto com Selma Cerqueira [mãe de Rafaela] ele a acompanha fora do Estado. Depois de 14 dias internada tratando de uma infecção, a araguainense recebeu alta nessa quinta-feira (10), e se recupera em um quarto cedido por uma paróquia na capital goiana. 

Marido acompanha Rafaela no tratamento em Goiânia pela segunda vez. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

Doação de Sangue e Medula Óssea

Ainda em entrevista, Rafaela chamou a atenção para a doação de sangue e medula: "As iniciativas de desconhecidos, amigos e familiares definitivamente salvaram minha vida. E eu gostaria de ressaltar o quanto esses gestos são importantes. Nesses tempos de pandemia, muita gente deixa de comparecer aos postos de coleta, mas em nome de todos que precisam e outros que infelizmente precisarão, peço para que as pessoas que podem doar, se sensibilizem com essa causa"

Rafaela destacou que antes de ficar doente era doadora de sangue e também fez o cadastro como doadora de medula óssea. "Sempre levantei essa bandeira porque acredito que é uma ação simples mas grandiosa. No caso da medula óssea mesmo, eu tive a benção de ter o milagre da compatibilidade na minha família, mas quantas pessoas não tem? Imagine quantas vidas poderiam ser salvas se todas as pessoas que podem fizesse esse cadastro?", observa.

 

Transplante

Ao contrário de outros transplantes, o de medula não tem cortes: “Bem mais tranquilo. É como retirar uma bolsa de sangue, que é transferida pra mim”, contou.

O procedimento ainda não tem data marcada. A Rafaela explicou na entrevista, que ela terminou o primeiro ciclo de uma quimioterapia e agora espera o resultado dos exames, para confirmar se entrou em remissão. Depois disso, ela deve esperar uma vaga em um Hospital de São Paulo para realização do transplante, mas antes disso ainda deve acontecer mais uma etapa de quimioterapia para zerar a sua medula e assim ela estará pronta para receber a doação da irmã.

Cura

O transplante neste caso é a última etapa desse segundo tratamento. “É um período bastante delicado, quando vou voltar praticamente a ser um bebê. Tenho que tomar todas as vacinas de novo, meu tipo sanguíneo vai mudar e ser igual ao da minha irmã e nos 100 primeiros dias vou ter que ficar em São Paulo fazendo todo o acompanhamento, exames e depois de um tempo a vida vai voltando ao normal”, esclarece.

Rafaela destaca ainda que conforme especialistas, “quanto maior compatibilidade significa que a cura é mais provável e isso me dá uma grande esperança e entrego tudo nas mãos de Deus”.

Questionamentos 

Quando a gente fala de câncer vejo gente procurando motivo”, disse Rafaela completando: “Muitas pessoas questionam sobre o meu caso: porque ela de novo? Uma pessoa de fé, da igreja? É muito chato ouvir isso. A leucemia não é por causa de anemia, falta de exercício. E câncer também não é castigo de Deus. Simplesmente aconteceu comigo e pode acontecer infelizmente com qualquer pessoa. A medicina ainda não descobriu o real motivo”, defende.

Lição de Vida

Depois do câncer, eu vejo a vida com outro olhar. Aprendi a dar muito valor em pequenas coisas: respirar sem aparelhos, poder caminhar, estar com a família, amigos. Minha fé foi fortalecida e sinto os cuidados de Deus em tudo!”, refletiu.

“Depois do câncer, eu vejo a vida com outro olhar", diz Rafaela. 

 

Pra encerrar, Rafaela ressalta que “câncer não é uma sentença de morte. São muitos medos e incertezas, mas é preciso lutar e buscar a cura. Desistir não é uma opção!”, concluiu.