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NOVA CHANCE?

Médico que ganhou fama após cometer vários crimes vira servidor do Estado e começa a atuar em Araguaína

09 outubro 2019 - 11h36Por Redação

Um dos médicos cirugiões plásticos mais famosos do país tanto por seu trabalho quanto por sua ficha criminal, começou a atuar este mês no Hospital Regional de Araguaína (HRA).

Hosmany Ramos é servidor efetivo do Estado. De acordo com informações do Portal da Transparência, ele está lotado no Hospital de Referência de Dianópolis, região sudeste do Tocantins, com um salário de R$ 12, 2 mil reais. Mas segundo fonte do site ele agora atua no Hospital Regional de Araguaína (HRA).

Nossa reportagem procurou a Secretaria de Estado da Saúde (SES), que em nota confirmou que o profissional está atendendo em Araguaína desde o início deste mês. 

Segundo a pasta, cirurgião plástico foi removido para o HRA a partir do dia 1 de outubro, para atender as necessidades dos serviços da Unidade. 

Conforme a nota, em Dianópolis, o profissional trabalhava como médico clínico com excelente desempenho e considerando as necessidades do HRA de ter cirurgião plástico para atender queimados, pacientes da Bariátrica, bucomaxilofacial para reconstrução de face e lábios leporino e ainda pacientes do câncer quando necessitam de reconstrução de mamas ou outros deformidades que requerem a especialidade da Cirurgia Plástica, o profissional que tem a especialidade e uma vasta experiência foi transferido para melhor atender o serviço. 

“Ficha Criminal”

Hosmany Ramos também é destaque na UOL nesta quarta-feira (08). A oitava edição do Podcast “Ficha Criminal” da UOL que conta histórias de criminosos que tiveram grande repercussão nacional, escolheu contar a história do médico de 73 anos, que depois de 36 anos preso cumprindo pena por crimes como, sequestro, assassinato e tráfico de drogas, ganhou liberdade e retornou aos consultórios para retomar sua carreira de médico. 

Ramos virou notícia na década de 1980 por uma série de crimes. A trajetória de Hosmany surpreende a todos que o conhecem. Assistente de Ivo Pitanguy, um dos maiores cirurgiões plásticos do mundo, ele foi condenado por tráfico internacional de drogas, sequestros, roubo de veículos e aviões, assassinatos e acusado de mais de dez tentativas de fuga durante o tempo em que esteve na prisão. Em setembro de 2016, obteve do Tribunal de Justiça de São Paulo o alvará de soltura. 

A fama

Nascido na cidade de Jacinto, em Minas Gerais, em 1946, Osmane Ramos chegou ao Rio de Janeiro com 17 anos para estudar medicina. Formado pela Universidade Federal, ele logo começou a trabalhar na equipe de Pitanguy. Já com o nome de Hosmany, ele atendia uma clientela de personalidades importantes e chegou a integrar a Academia Brasileira de Cirurgia Plástica. Em 1981, porém, o rumo de sua vida mudou radicalmente. O cirurgião foi preso por roubo de carros e aviões, tráfico, sequestros e homicídios. Segundo a Promotoria de Justiça de Araçatuba, o assassinato de seu piloto Joel Avon foi considerado “queima de arquivo”. “O acusado o eliminou para assegurar a impunidade dos crimes que vinha praticando, que eram de conhecimento da vítima”, diz o documento do Ministério Público de São Paulo. Segundo o órgão, já preso, Hosmany também arquitetou o sequestro da filha de um juiz de Caçapava para obter sua soltura e de outros condenados. O médico foi condenado a 46 anos e 11 meses de prisão. Durante esse período, ele orquestrou muitas tentativas de fuga. Em 1996, deixou o Instituto Penal Agrícola de Bauru. Um mês depois, foi recapturado ao participar do sequestro do fazendeiro Ricardo Carvalho Rennó, em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais.

A fuga mais espetacular ocorreu em dezembro de 2008, quando convocou jornalistas para anunciar que não voltaria à cadeia após o indulto de Natal e Ano Novo como forma de protesto contra as más condições carcerárias brasileiras. Oito meses depois, seria preso na Islândia ao tentar entrar no país com o passaporte do irmão. Após a Suprema Corte islandesa autorizar a extradição, agentes da Polícia Federal foram buscá-lo na capital Reykjavík. Quando chegou ao Brasil, foi levado ao presídio de Junqueirópolis, interior paulista. 

Em 29 de setembro de 2016, o Ministério Público de São Paulo questionou a liberdade plena de Hosmany, alegando a necessidade de um exame criminológico com o objetivo de verificar o perfil psicológico do cirurgião. Em maio, o Tribunal de Justiça concedeu decisão favorável ao médico, sob os argumentos de que já havia cumprido o tempo de pena referente aos crimes hediondos e aos crimes comuns. Além disso, segundo o órgão, Hosmany não registrou falha disciplinar nos últimos 12 meses de detenção.

Nova Chance

Assim que saiu da prisão, Hosmany passou quatro meses em Oslo, na Noruega. A viagem, paga pelo filho, empresário de 41 anos, tinha o propósito de afastá-lo dos holofotes mas foi também uma oportunidade para o médico cursar especializações em técnicas de cirurgia com laser e lipoaspirações. Em janeiro de 2017 ele voltou para o Brasil e desde setembro de 2017 vive em Palmas, capital do Tocantins, com sua mãe onde se divide na rotina literária, atividades físicas e atendimentos médicos. 

(FOTO: Washington Luiz)

Na capital tocantinense, Hosmany Ramos atende pacientes interessados em abdominoplastia, aplicação de silicone e lipoaspiração. Os valores cobrados pelos procedimentos variam de R$ 8 mil a R$ 15 mil. Além disso, o médico é servidor do Estado. Em entrevista à revista ISTO É em 2017, ele contou  que também viaja pelo menos uma vez por mês para São Paulo para atender pacientes em uma clínica localizada na Avenida Brasil, um dos endereços mais nobres da capital paulistana onde se dedica a procedimentos de implantes de cabelo - o custo pode chegar a até R$ 100 mil para a aplicação de mil fios.

(FOTO: Washington Luiz)

Além de voltar à medicina, Hosmany tem se dedicado às atividades literárias. Ainda nos anos de prisão ele começou a escrever sua autobiografia e também tentou ingressar na política em 2018 quando candidatou-se ao cargo de deputado federal em São Paulo tendo como principais bandeiras mudanças no sistema político, judiciário e carcerário, porém teve sua candidatura idenferida. 

Católico, em entrevista à ISTO É, o médico disse também estar arrependido dos crimes que cometeu. Na corrida pela nova vida, Hosmany afirma ter revalidado o registro profissional médico para exercer a profissão. De acordo com os Conselhos Regionais de Medicina de Tocantins e do Rio de Janeiro, o registro do médico está ativo e regular. Já o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo indeferiu o pedido de revalidação e pediu que ele apresente documentos para esclarecer suas acusações e penas recebidas pela Justiça. O Cremesp afirma também que ele não teve nenhuma condenação no âmbito criminal relacionada ao exercício da medicina.

Nos momentos em que não está com pacientes, Hosmany gosta de ler, ouvir música, tocar violão e piano e pintar quadros. “Sou um cidadão livre, não devo nada à Justiça”, disse o médico na entrevista.