Palmas
27º
Araguaína
25º
Gurupi
29º
Porto Nacional
30º
LAUDO CONFIRMA!

"Dengue hemorrágica matou minha filha; médica errou e vai ter que pagar!", afirma mãe desolada

09 dezembro 2019 - 08h27Por Redação

Saiu o resultado do laudo que confirmou a causa da morte da pequena Karyne Gonçalves Ramos de apenas 1 ano e 11 meses de idade em Araguaína, Norte do Estado. Ela faleceu no dia 17 de setembro deste ano, depois de peregrinar por unidades de saúde da cidade. Na época a mãe acusou a médica plantonista de negligência e protocolou denúncia no Ministério Público. O Portal O Norte acompanhou o caso. 

O parecer técnico foi assinado no último dia 14 de novembro, pelo médico Merves Rodrigues de Silveira, mas a mãe Gardenia Pereira Gonçalves (30 anos), só teve acesso ao documento nesse sábado (07). 

(Foto cedida ao Portal O Norte)

O laudo médico aponta que a pequena Karyne estava com um grave quadro de pneumonia e dengue que por falta de tratamento adequado evoluiu para dengue hemorrágica e em consequência disso resultou na morte da criança. 

O Portal O Norte teve acesso ao laudo que explica detalhes em termos técnicos, entre eles que a menina apresentava um quadro febril que evoluiu em três dias acompanhado de um distúrbio de coagulação e choque hipovolêmico com parada cardiovascular. A necropsia apontou ainda que os pulmões apresentavam cor escura e o fígado havia aumentado.  

Diante do resultado, a mãe Gardênia, conversou com nossa reportagem e disse que já acionou advogados para entrar na justiça. "Até o último dia da minha vida vou falar que foi negligência. Era para minha filha estar viva aqui comigo. Não tenho mais o abraço dela, o sorrisinho dela, o carinho dela, sinto tanta falta", lamentou Gardênia acrescentando: "Quero Justiça, sei que isso não vai trazer minha filha de volta mas essa médica precisa ser responsabilizada para que outras mães não passem pelo que eu estou passando. Não desejo isso pra ninguém, é muita dor, muito sofrimento".

Caso de Polícia

Depois da perda da filha, a mãe também registrou um Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia de Infância e Juventude e acionou o Ministério Público Estadual (MPE) para apurar o caso. "Ainda demorei pra tomar essas providências porque eles demoraram pra me entregar o prontuário, dizendo que levaria alguns dias para que ele pudesse ser entregue". Depois que conseguiu finalmente receber o documento, a mãe o apresentou ao MP porque foi uma das exigências destacadas pelo órgão para realizar a abertura do procedimento de denúncia.  Ela disse que também vai acionar o Conselho Regional de Medicina (CRM), para apurar a conduta da médica e vai buscar também a responsabilização da gestão da UPA sobre a morte de Karyne.

Mãe gravou um vídeo para nossa reportagem falando sobre o assunto:

Entenda o caso

Karyne morreu no dia 17 de setembro mas a mãe só procurou nossa reportagem no início de novembro, quando relatou o drama vivido pela família. Ela disse que antes estava muito abalada com a tragédia e por isso demorou para falar sobre o caso. 

“Foi negligência desde o começo”, diz a mãe lembrando que a filha começou a passar mal por volta das 5h da madrugada do dia 16 de setembro. Pela manhã, procurou a UPA para atender a criança que apresentava um quadro de vômito e febre alta. “Passamos horas esperando por atendimento e quando finalmente entramos na sala da médica ela sequer tocou na minha filha, apenas perguntou os sintomas, deu uma olhada no celular como se estivesse pesquisando alguma coisa e em seguida passou apenas um dipirona e um soro pra ela tomar”, lembra.

Mas a mãe não se conformou com a postura da médica e exigiu que ela solicitasse um exame mais detalhado, momento em que a profissional então, encaminhou a criança para realizar um exame de sangue. “O hemograma apresentou uma alteração, ela disse que ela estava apenas com infecção na garganta, garantiu que não era nada sério, por isso não receitou nenhum antibiótico e ainda deu alta pra minha menina. Eu acreditei nela!”, disse.

Gardênia voltou pra casa com a filha nos braços na esperança de que ela melhorasse, mas Karyne parecia estar muito pior: “Ela tava molinha, só dormia, a febre subiu ainda mais e ela continuava vomitando, voltei à noite pra UPA e ela foi novamente atendida pela mesma médica, que deixou ela em observação e receitou mais soro e dipirona na veia dela”.
A mãe lembra que virou a noite cuidando da filha, que continuava piorando: “Ela começou a ficar amarelinha, roxinha, vomitando muito e quando começou a colocar sangue vivo pra fora eu me desesperei, depois o sangue foi ficando preto, parece que ela tava toda estourada por dentro”. A mãe disse que chamou imediatamente as enfermeiras que levaram Karyne para a sala vermelha: “Eles furavam ela em todo lugar tentando, mas não conseguiram tirar sangue algum dela e eu fiquei ainda mais angustiada”, lembra.

Diante do estado crítico em que se encontrava, Karyne foi transferida às pressas para o Hospital Municipal de Araguaína (HMA). “Ela já chegou lá quase morta, com a respiração fraquinha e logo na entrada do hospital sofreu uma parada cardíaca". Gardênia disse que a filha foi levada pra uma sala onde ela não podia entrar. Foi a última vez que ela viu sua filha viva. A menina não resistiu e faleceu por volta das 18h25.  "É uma dor inexplicável, um sentimento de impotência tão grande de imaginar que minha filha poderia estar viva", lamentou a mãe. 

Família Abalada

Gardênia contou que toda a família ficou abalada com a morte de Karyne. "Minha filha mais velha tem 10 anos e perdeu o pai há 3 anos, agora perde a irmã? Ela agora vive trancada no quarto, não tem vontade de ir pra escola, diz que a vida dela acabou". 

Karyne era a primeira filha do atual marido de Gardênia. Ele tem 49 anos e trabalha como mecânico de automóveis. "Imagina como é para um pai perder uma filha...e a única filha?". 

Gardênia e a filha mais velha estão recebendo atendimento psicológico para enfrentar o trauma sofrido com a perda de Karyne. Mas a dona de casa diz que ainda procura forças para lutar por justiça. "Não poderia me calar diante de uma situação tão absurda como essa, tenho certeza de que minha filha não foi a primeira e nem será a última. Não quero que outras mães passem pelo que estou passando. Sinto tanta falta da minha pequena. Quero que a justiça seja feita e que os responsáveis paguem pelo seus erros", pontuou.

A UPA

Quando foi publicada a reportagem, o Portal O Norte procurou na época a gestão da UPA para se manifestar sobre o caso. Confira abaixo a nota na íntegra encaminhada pelo Instituto Saúde e Cidadania-ISAC, responsável pela gestão da unidade: 

O Instituto Saúde e Cidadania-ISAC, responsável pela gestão da Unidade de Pronto Atendimento de Araguaína (UPA 24 horas), esclarece que a criança citada na reportagem foi submetida a todos os protocolos internos nos dois momentos em que a paciente deu entrada na unidade (classificação amarela, exames clínicos, exames laboratoriais, exames de imagem e medicação), não sendo identificado qualquer nível de negligência durante todo o atendimento, conforme análise crítica feita pela Comissão de Revisão de Prontuário.
Ressaltamos que a UPA é uma unidade de pronto atendimento e que o período de avaliação do paciente é de até 24 horas, havendo transferência mediante piora do quadro, conforme ocorrido com a paciente em questão, que foi referenciada ao Hospital Municipal de Araguaína.

No HMA, a criança foi recebida e encaminhada para a ala de Estabilização, onde o atendimento foi feito seguindo todos os protocolos. A paciente então foi transferida para a UTI Pediátrica, onde veio a óbito.