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HINO DO ESTADO

Historiador faz leitura crítica do Hino do Tocantins e da proposta para mudá-lo

31 outubro 2011 - 08h48

No dia 13 de outubro o deputado Sargento Aragão apresentou Projeto de Lei no qual aponta “erro histórico” no Hino do Estado do Tocantins. Para o parlamentar do PPS, o trecho do hino “De Segurado a Siqueira o ideal seguiu” é incoerente ao trazer o nome de Teotônio Segurado e de Siqueira Campos e apresentá-los como expoentes do processo de luta pela criação do Tocantins. E emendou: “Não se pode constar apenas os nomes de duas pessoas, se foram muitas que trabalharam pela formação do Estado”. O deputado sugeriu ainda que outro hino fosse criado, via concurso público, a cargo da Secretaria de Educação. O projeto ainda não foi votado.

A disputa política que é travada na Assembleia Legislativa parece ocupar todos os espaços possíveis. Neste caso, a disputa se dá no espaço da memória, da história, do simbólico. Ao questionar a presença no hino do nome do governador do Estado Siqueira Campos – seu desafeto desde o episódio da greve geral da PM em 2001 na qual era um dos líderes – Aragão ataca um elemento importante do discurso construído por Siqueira desde 1988, qual seja, de se apresentar como “criador” do Tocantins.

Isso fica claro na posição do deputado de não condenar a peça no todo (embora tenha apresentado proposta para confecção de um novo hino), mas especialmente, o trecho em que o hino sugere que foi Siqueira quem deu continuidade e concluiu o “sonho libertário” de Teotônio Segurado.

Apesar de possuir um forte elemento político embutido em sua proposta de construção de um novo hino para o Estado, o projeto do deputado Aragão, mesmo que não obtenha êxito, contribui para uma discussão que me parece pertinente: os tocantinenses precisam de um herói? É dessa forma que o hino o retrata como parte do movimento “secular” de luta pela autonomia.

Criado por Liberato Póvoa (Letra) e Abiezer Alves da Rocha (Música), o Hino oficial do Estado foi instituído em 1998 e foi construído sob medida para beneficiar politicamente o governador Siqueira Campos, ao reforçar a sua imagem de “Pai” da “nação” tocantinense.

Na maioria dos versos o Hino do Tocantins se encarrega de elogiar a coragem do povo e as riquezas naturais da região, mas em pelo menos três passagens, o hino “levanta a bola” para que o nome de Siqueira Campos apareça como o grande “redentor” da luta “libertária”.

Logo no primeiro verso – (O sonho secular já se realizou) – fica evidente a tentativa de vincular episódios de um passado distante (Século XIX, Teotônio Segurado, Comarca do Norte) e pouco compreensível para o povo num elemento próximo e dotado de sentido.

Mais à frente – (Do bravo Ouvidor a saga não parou) – o Hino faz questão de lembrar quem teria sido o iniciador da luta secular pelo Tocantins e sugere que o movimento liderado por ele em 1821 tem ligações diretas com outros que tiveram lugar mais de um século depois.

Por fim, a peça expõe abertamente o seu objetivo – (De Segurado a Siqueira o ideal seguiu) – consolidar o nome de Segurado como defensor da criação do Tocantins e sacramentar o nome de Siqueira Campos como responsável pelo feito “heróico” e “histórico” em busca do qual muitos sucumbiram. (Lailton Costa)