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Por: Alberto Rocha

Maria Tortinha

30 agosto 2011 - 10h02

 Ela era desajeitada. Seu caminhado era todo torto. Andava quase se arrastando pelo chão. Por isso ganhou o apelido de Maria tortinha. Não era para menos: suas pernas eram tortas também. Enquanto uma perna queria ir para o sul, a outra puxava para o norte. Era aí que começava a confusão na hora de andar. Ah, uma das asas era quebrada. Mas ela seguia seu destino, sem reclamar da situação.

Apesar de todo aquele sofrimento, ela andava para todos os cantos, ma não era fácil. Ela teve que desenvolver habilidades para se movimentar para todos os lados. Comia aqui, comia ali. Eu mesmo cheguei a jogar milho bem longe só pra ver Maria Tortinha andar, se esforçar para bicar a comida, apanhava das outras galinhas. Dava pena, mas era a vida dela. Ou ela andava e se virava para comer ou morria de fome.

Esse era o dia da Maria Tortinha, uma galinha esperta que não se deixava abater pelas dificuldades e o pior: não bastassem os embaraços que encontrava todos os dias, ainda corria grande risco de terminar a vida numa panela fervendo. Essa é a historia da Maria Tortinha, a galinha que ia à luta, não se entregava apesar do triste destino.

Ao contrário da Maria Tortinha, que não tinha nada nessa vida, a não ser as duas pernas tortas e uma asa quebrada, muita gente por aí tem de tudo. Tem carro, casa, saúde, comida, família, ar condicionado, férias, viaja pra onde quer,tem estudo, dinheiro, emprego, amigos, as duas pernas para andar e correr e todo o corpo sadio para se movimentar. Graças a Deus por isso.

É bom a gente ter tudo. Assim as coisas ficam mais fáceis e o sofrimento pode ser menor. Ter de tudo é bom; o ruim mesmo é quando a gente começa a reclamar da vida por qualquer coisa. Aliás, somos especialistas em reclamar das circunstâncias desfavoráveis que encontramos pela vida. Basta uma pequena dificuldade que começamos a berrar contra a vida, contra tudo e contra todos.

É assim: se a comida está salgada, se o dinheiro está pouco, se o tempo faz calor ou frio, ou qualquer dorzinha de dente, reclamamos e reclamamos, e nada e ninguém presta, está tudo ruim. Mas se abrirmos o armário ele está cheio de roupas e sapatos; na cozinha tem comida e o carro ou a moto descansa na garagem; a saúde está em dia e a família por perto está. E lá fora, o sol brilha e os pássaros cantam na janela. Enquanto isso, reclamamos e reclamamos.

Se hoje temos falta de dinheiro, bens saúde ou mesmo paz, amanhã poderemos ter abundância de tudo isso. Queixar-se das circunstâncias desfavoráveis não é o melhor caminho. Mas se persistimos em reclamar da vida, que tal darmos uma olhada na vida da Maria Tortinha? Talvez ela nos ensine que viver é melhor do que reclamar. Dá-lhe, Maria Tortinha, ensine para nós como é viver a vida sem reclamar, mesmo que para isso seja necessário o sacrifício.

(Alberto Rocha, jornalista e psicanalista clínico - Texto oficialmente publicado na revista JFashion)